v. Bras. Hist. vol.29 no.57 São Paulo
June 2009
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882009000100002
DOSSIÊ: O
BRASIL VISTO DE FORA
A Amazônia
no imaginário norte-americano em tempo de guerra
Amazonia in the U.S. wartime imaginary
Seth Garfield
Professor
Associado, Departamento de História, University of Texas. GAR 2.120, 1 Univ Sta
B7000. Austin, TX 78712-0220. sgarfield@mail.utexas.edu
RESUMO
Este ensaio
delineia a emergência da Amazônia no imaginário norte-americano no período da
Segunda Guerra Mundial. Embora a importância geopolítica de diversificação dos
mercados fornecedores de borracha e o desenvolvimento da borracha sintética
tenham sido discutidos nos Estados Unidos antes do ataque a Pearl Harbor, a
subsequente interdição japonesa aos mercados tradicionais do sudeste asiático
levou burocratas e cientistas a se apressarem na busca de alternativas. Como em
outras regiões da América Latina, as políticas de obtenção e fornecimento,
durante a guerra, dividiram os progressistas adeptos do New Deal e os
conservadores fiscais. Entretanto, a política de gestão norte-americana também
moldou e foi moldada por mitos enraizados acerca das regiões e populações
tropicais. Na época, como agora, a Amazônia era muito mais que um lugar: para
os norte-americanos, era também uma pedra de toque das ansiedades mais
profundas concernentes às questões de raça, classe e nação.
Palavras-chave: Amazônia brasileira; borracha; relações Brasil-EUA durante a Segunda
Guerra Mundial.
ABSTRACT
This essay traces the emergence of the Amazon in the United States
wartime imaginary. Although the geopolitical importance of diversifying rubber
markets and developing synthetics had been discussed in the United States
before Pearl Harbor, the subsequent Japanese interdiction of traditional
Southeast Asian markets sent American government officials and scientists
scurrying to find alternatives. As in other regions of Latin America, wartime
procurement policies in the Amazon divided New Deal progressives and fiscal
conservatives, but these policies also shaped and were shaped by entrenched
myths of tropical regions and populations. Then, as now, the Amazon was more
than a place, but also a flashpoint for Americans for deeper anxieties
concerning questions of race, class, and nation.
Keywords:
Brazilian Amazon; rubber; Brazil-USA relationship during Second Word War.
Este ensaio
delineia a emergência da Amazônia no imaginário norte-americano anterior a
Pearl Harbor e o lugar controverso que ela ocupou nas decisões políticas dos
Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A historiografia diplomática
atual sobre a Era Vargas nos fornece uma visão crítica das relações bilaterais
com os Estados Unidos, incluindo análises de conflitos internos à burocracia
norte-americana na elaboração de políticas para o Brasil, assim como a
articulação de interesses de classe dentro e fora das fronteiras nacionais.1
Contudo, distintas populações e paisagens do Brasil foram avaliadas e tratadas
de forma diferente pelos responsáveis pela política dos Estados Unidos e por
interlocutores particularmente interessados em controlar os recursos naturais,
o território e os povos do norte do Brasil.2
Embora numerosos estudos tenham explorado a "invenção" da Amazônia
por meio da análise de textos literários, os acadêmicos geralmente dedicaram
pouca atenção às matrizes estruturais, institucionais e geopolíticas que
embasaram essa produção cultural e que foram por ela reforçadas.3
Com base em uma linha de pesquisa que, recentemente, tem buscado fundir as
abordagens metodológicas da história diplomática, ambiental e cultural, busco
analisar o lugar da Amazônia no imaginário norte-americano durante a guerra.4
Nos anos que
precederam Pearl Harbor, a busca por matéria-prima, defesa hemisférica e
expansão das oportunidades de negócios reavivou o interesse dos Estados Unidos
nos recursos naturais da Amazônia. Antes de Pearl Harbor, a enorme dependência
da economia norte-americana da importação de borracha crua do Sudeste asiático
levou vários altos funcionários, comentaristas e escritores a apoiar a criação
de plantations de borracha na Amazônia e em outras regiões no hemisfério
ocidental. O apelo da Amazônia para alguns observadores norte-americanos não
estava somente em seus recursos naturais, mas também na sua promessa de aliança
pan-americana e redenção espiritual.
A entrada
dos Estados Unidos na guerra e a tomada dos territórios produtores de borracha
do Sudeste asiático pelo Japão alteraram a natureza do engajamento político e
do debate sobre a Amazônia nos Estados Unidos. A ameaça de uma iminente
escassez da borracha levou o governo a intervir de forma decisiva, tanto
internamente como na Amazônia, a fim de maximizar a oferta: internamente, o
governo dos Estados Unidos subsidiou a criação de uma indústria da borracha
sintética; na Amazônia, sua prioridade se deslocou da pesquisa botânica e do
desenvolvimento de plantations para a expansão do comércio da borracha
silvestre. Como em outras regiões da América Latina, porém, as políticas de
obtenção de matéria-prima durante a guerra continuaram altamente
controvertidas. Nos Estados Unidos, os liberais duvidavam de que o aumento das
exportações da América Latina durante a guerra pudesse, por si só, atender às crescentes
aspirações regionais por desenvolvimento industrial e por um padrão de vida
mais elevado, além das necessidades econômicas norte-americanas no pós-guerra.
Por isso, defendiam que o governo dos Estados Unidos apoiasse uma modesta
industrialização, a aplicação de leis trabalhistas e a expansão do comércio
complementar de commodities na América Latina, como forma de modernizar
economias "coloniais" e promover a ascensão social. Os conservadores,
porém, buscavam restringir as iniciativas do governo norte-americano, durante a
guerra, à obtenção de matéria-prima através dos canais de negócios já
existentes, em detrimento de reformas socioeconômicas.5Eles
criticaram duramente o uso da influência política norte-americana e da ajuda
econômica para melhorar as condições sociais na Amazônia, apontando essas
medidas como violação aos princípios do livre-mercado, assistencialismo
governamental e afronta à soberania brasileira.
Embora o
debate político nos Estados Unidos sobre o fornecimento de borracha pela
Amazônia frequentemente se apropriasse do discurso da segurança nacional, as
divisões também refletiam uma competição entre diferentes visões das paisagens
e dos povos tropicais. A conflagração global havia suscitado interesse e
envolvimento inéditos do governo dos Estados Unidos nos assuntos amazônicos.
Porém, o imperialismo norte-americano no Caribe e no Pacífico desde a virada do
século havia promovido, durante muito tempo, ideologias que infantilizavam os
povos tropicais, retratando-os como incapazes de administrar os próprios
recursos e desesperados por tutela política, conhecimento técnico, ajuda
econômica e liderança moral vindos dos Estados Unidos. Tomando a conquista da
natureza como medida do grau civilizatório, os norte-americanos olhavam com
desconfiança para a região (supostamente) inculta e não-colonizada, ocupada por
povos que viveriam ainda no estado de natureza.6
De fato, havia muito a Amazônia atraía o olhar de reprovação de habitantes do
hemisfério Norte, que atribuíam o subdesenvolvimento da região ao peso dos
fatores racial, climático e cultural.7
A recente descoberta do potencial das imensas reservas de borracha da Amazônia
para a economia industrial dos Estados Unidos reavivou velhas questões
imperiais sobre os trópicos. A floresta tropical poderia ser
"conquistada"? Os extrativistas eram pouco produtivos porque eram
explorados, ou eram explorados porque pouco produtivos? As populações da
Amazônia seriam capazes ou merecedoras da ascensão social? Teria a geografia
condenado os extrativistas da borracha amazônica a serem produtores marginais
para o mercado mundial? Ou a ciência e a tecnologia ofereceriam uma nova
promessa? A sociedade norte-americana se beneficiaria ou sofreria com o renascimento
do comércio da borracha crua na Amazônia?
Imersas numa
série de mitos históricos e preconceitos culturais relacionados à América
Latina tropical (e aos Estados Unidos), as representações norte-americanas da
Amazônia foram moldadas por uma mistura de imagens desgastadas: a atração pelo
El Dorado, o coração das trevas tropical registrado em livros de viagem e jungle
books, inclinações isolacionistas e antieuropeias, o mito construído da
fronteira norte-americana, a fé no poder transformador da ciência, a sedução ou
o pavor pelo emergente estado de bem-estar social. Velhas expressões sobre El
Dorado ou o "inferno verde" assumiram novas conotações nessa era
turbulenta, informando e sendo informadas pelas políticas públicas. Mais que um
lugar, a Amazônia era também um símbolo cultural de esperança ou desilusão para
os norte-americanos, uma pedra de toque para ansiedades mais profundas
relacionadas a questões de raça, classe e nação. De fato, a análise histórica
ressalta as forças materiais e ideológicas que moldaram a visão norte-americana
da floresta tropical, revelando as mudanças e continuidades nas percepções
contemporâneas da Amazônia nos Estados Unidos.
A
DEPENDÊNCIA NORTE-AMERICANA DA BORRACHA ÀS VÉSPERAS DE PEARL HARBOR E A ATRAÇÃO
DA AMAZÔNIA
Em razão da
abundância de recursos naturais no Brasil, de sua influência política na
América do Sul, grande população de ascendência alemã e proximidade geográfica
da África Ocidental, os oficiais militares norte-americanos viam o país como um
ponto estratégico na resistência a ofensivas nazistas no hemisfério. Entre
setembro de 1939 e dezembro de 1941, com a guerra em andamento na Europa e na
Ásia, um conglomerado de agências norte-americanas tentou complementar ou
substituir o Departamento de Estado para fortalecer o comércio e a aliança
interamericanos, assegurar o acesso a recursos estratégicos e excluir o Eixo do
hemisfério ocidental:8
a Reconstruction Finance Corporation, a Inter-American
Development Commission, o Export-Import Bank, o Economic Defense
Board, o Airport Development Program, o Office of Inter-American
Affairs, o Departamento de Agricultura e o Departamento da Guerra.9Inequivocamente,
a guerra na Europa havia eliminado efetivamente três quintos do comércio
exterior da América Latina, lançando a região numa profunda crise econômica.10
Contudo, o governo norte-americano também via o hemisfério ocidental como
potencial fonte de matérias-primas até então fornecidas pelos ameaçados
mercados do Velho Mundo.
Em 1940, os
Estados Unidos, com 6% da população do mundo e 7% da superfície terrestre,
produziam metade dos produtos industriais finais e 75% dos veículos
motorizados, mas a rápida transformação de uma sociedade agrária para uma
economia de produção em massa no início do século XX havia ocasionado uma
dependência sem precedentes da importação de matérias-primas para sustentar a
produção industrial.11O
abastecimento de borracha era particularmente desafiador para os Estados
Unidos. Em 1942, a borracha consumida nos Estados Unidos era 96% natural e
apenas 4% sintética.12Os
Estados Unidos importavam do Sudeste Asiático, principalmente da Malásia
Britânica e das Índias Holandesas, 98% da borracha crua que utilizavam (Marshall,
1995, p.23). Em 1941, a importação de borracha crua nos Estados Unidos tinha
chegado ao impressionante total de 1.025 mil toneladas, mais que a soma de todo
o resto do mundo (Tuttle, 1981, p.65). O consumo prodigioso de borracha nos
Estados Unidos resultou do avanço meteórico na tecnologia das máquinas no
século XX. Assim como o ferro, o aço, o carvão e o petróleo, a borracha havia
se tornado um material essencial, tanto na paz quanto na guerra, nas fábricas e
nas casas, fazendas e meios de transporte, em bens produzidos em tempo de paz e
em material bélico.13
Eram conhecidos mais de 40 mil usos para a borracha, mas sua principal
aplicação nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial era na indústria
de pneus, em que a borracha contribuía para a revolução no transporte
individual de longa distância.14Entre
1938 e 1940, 76,6% de toda a borracha crua consumida nos Estados Unidos foi
transformada em pneus, câmaras de ar e artigos correlatos (com pneus de
automóveis representando 85% do total), equipando 27 milhões de automóveis
norte-americanos (Knorr, 1945, p.46).
No seu
sentido mais básico, a borracha crua refletia aquilo que Fernando Coronil havia
denominado a "divisão global da natureza", que tinha reservado às
regiões do chamado Terceiro Mundo um lugar distinto na divisão internacional do
trabalho.15
Como as seringueiras requeriam um clima tropical e úmido, com temperaturas
entre, aproximadamente, 21 e 32 graus e um nível pluviométrico de cerca de
2.500 milímetros ao ano, o "cinturão da borracha" restringia-se a uma
faixa relativamente estreita, entre dez graus ao norte e ao sul do Equador, na
Ásia, na África e na América Latina. Embora centenas de seringueiras, arbustos,
plantas e vinhas crescessem nos Estados Unidos - sendo a guaiule, nativa do Sul
do Texas e do Norte do México, a mais promissora -, a quantidade de borracha no
látex encontrado na maioria das regiões temperadas era muito mais baixa que nas
plantas tropicais, e os encargos trabalhistas eram muito maiores nos Estados
Unidos.16A
escolha recaiu sobre a hevea brasiliensis, uma árvore nativa da Amazônia
que sustentara o crescimento espetacular da região entre 1850 e 1910, mas cuja
primazia foi sumariamente minada pelos ingleses, que contrabandearam sementes
de seringueira em 1876 para replantar em suas colônias asiáticas; cultivada em
grandes plantations e por pequenos agricultores, a seringueira asiática
produzia maior volume de látex a custo menor que a borracha amazônica. Em 1940,
de acordo com as estimativas dos Estados Unidos, a produção anual de borracha
no vale do Amazonas totalizava apenas entre 16 mil e 18 mil toneladas.17
Como aponta
David Harvey, mercados complexos tendem a ocultar dos consumidores as regiões
geográficas (e as relações sociais) que produzem commodities.18
Porém, a inquietante dependência do látex asiático tornava o comércio da
borracha crua, de tempos em tempos, politicamente controverso nos Estados
Unidos. Na década de 1920, políticas restritivas implantadas pelos ingleses
sobre a produção de borracha asiática provocaram fortes reações nacionalistas
nos Estados Unidos, que dependiam da borracha estrangeira. Isso levou o governo
norte-americano a pesquisar mercados alternativos e também preparou o terreno
para os investimentos em larga escala de Henry Ford em plantations de
borracha na Amazônia brasileira. Da mesma forma, nos anos que antecederam Pearl
Harbor, alguns altos funcionários do governo dos Estados Unidos alertaram sobre
os efeitos catastróficos que a perda dos mercados asiáticos de borracha causaria
na economia e na capacidade de mobilização militar do país. Em 1939, o
economista Eliot Janeway escreveu:
A economia
americana e, com ela, a defesa americana não podem operar sem borracha, e é
estanho que, atualmente, ela não possa ser obtida em quantidade adequada senão
das colônias britânicas e holandesas do Sudeste asiático. E, hoje, o Japão
controla as rotas comerciais entre a costa Leste dos Estados Unidos e os
Estreitos da Malásia... Lá se encontra, pronta para ser entregue ao Japão, uma
arma mais segura e mais poderosa do que um ataque naval imprudente... (ver
Marshall, 1995, p.xi)
No ano
seguinte, um relatório do Conselho de Equipamentos de Guerra do Exército e da
Marinha dos Estados Unidos dizia: "parece não haver dúvida de que a
borracha é quase tão essencial à defesa nacional quanto a pólvora [ou] os
explosivos ... a defesa nacional seria colocada em risco se o abastecimento por
fontes externas fosse cortado" (ver Marshall, 1995, p.13). Essa
ameaça se tornou mais grave a partir da invasão nazista da Europa Ocidental na
primavera de 1940, com ataques de submarinos alemães a navios no Atlântico e
medo crescente de que os japoneses pudessem interditar o suprimento asiático de
borracha.
Críticos nos
Estados Unidos sugeriram três opções principais para reduzir a dependência de
fontes do Sudeste asiático - o armazenamento de estoques domésticos de borracha
importada, o desenvolvimento de uma indústria sintética e a diversificação
geográfica da aquisição de borracha crua. Com seus milhões de seringueiras
silvestres, a Amazônia atraiu o olhar de observadores norte-americanos,
representando a possibilidade da terceira opção para assegurar o suprimento de
borracha: a diversificação dos mercados tradicionais. Como John Gunther
alertava em 1940: "Se a guerra se estender ao Extremo Oriente e impedir
aos Estados Unidos o acesso a suas fontes normais de borracha, quinina, cânhamo
e estanho, nos restará apenas rezar para que a América Latina seja uma
substituta".19E,
como outra autora norte-americana indagava às autoridades brasileiras em 1940:
A borracha,
há muito o mais importante produto da Amazônia, é indispensável na indústria
mundial de hoje. Com a guerra na Europa e os movimentos japoneses no Pacífico
Sul, e as consequentes ameaças do Japão de cortar nosso comércio com as Índias
Orientais Holandesas e com a Malásia Britânica, por que os Estados Unidos não
se voltariam para seu país como sua principal fonte de borracha?20
A história
ambiental pioneira de Warren Dean sobre a borracha amazônica documenta os
esforços intermitentes das administrações Vargas e Roosevelt para criar plantations
de borracha no Brasil no início da década de 1940. No dia 22 de junho de 1940,
o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que destinava 500 mil dólares
para o Departamento de Agricultura (USDA), para o desenvolvimento da produção
de borracha no hemisfério ocidental. O Bureau of Plant Industry e o Office
of Foreign Agricultural Relations montaram um amplo programa para pesquisar
o cultivo sistemático de borracha, com o objetivo principal de combater o Microcylus
ulei, vulgarmente conhecido como "mal-das-folhas" sul-americano,
fungo que, historicamente, atacava as plantações de borracha no hemisfério
ocidental. Acordos de cooperação foram assinados com catorze países da América
Latina e também com várias companhias comerciais; missões exploradoras foram
enviadas para áreas promissoras, buscando avaliar se elas eram próprias para o
cultivo da seringueira e colher informação sobre as condições de saúde e o
nível salarial, além de produzir pesquisas topográficas, mapas e fotografias;
botânicos do USDA foram enviados para a América Latina; seções experimentais e
demonstrativas foram estabelecidas na Amazônia brasileira, na América Central e
no Caribe para reunir e propagar clones altamente produtivos da seringueira e
criar variedades resistentes a doenças; sprays fungicidas contendo cobre
insolúvel foram aplicados, com sucesso, para controlar o
"mal-das-folhas" em mudas criadas em viveiros experimentais. No
Brasil, um acordo entre o Ministério da Agricultura e o USDA foi assinado em
outubro de 1940, autorizando a operação de uma equipe de pesquisa na Amazônia e
o estabelecimento de um viveiro experimental em terrenos do Instituto
Agronômico do Norte (IAN), criado no ano anterior, em Belém, como parte da
iniciativa de Vargas de trazer a agricultura científica e o saneamento para o
vale amazônico. Atenção especial foi dada à obtenção de variedades mais
produtivas da seringueira, para compensar as vantagens do baixo custo do
trabalho asiático. Em 1942, já havia mais de um milhão de mudas sendo testadas
no IAN e quinze milhões em toda a América Latina.21
É certo que os "acordos da borracha" representaram uma mudança
significativa para o USDA, que, historicamente, enviara missões a países
estrangeiros para analisar a competição e a demanda por commodities
agrícolas afetadas pelas exportações agrícolas da América Latina, conduzir
estudos sobre insetos daninhos ou potencialmente prejudiciais às plantações dos
Estados Unidos e participar de conferências internacionais e sociedades
científicas. Os acordos da borracha, porém, eram estratégicos para os Estados Unidos,
porque tinham como objetivo a oferta de aconselhamento técnico e de
equipamentos para aumentar a produtividade de uma commodity que o país
não produzia e da qual precisava para atender suas necessidades básicas.22
Como nota
Dean, os cientistas não conseguiram gerar seringueiras resistentes ao
"mal-das-folhas" na Amazônia, eliminando as esperanças de tornar a
região capaz de competir no mercado global da borracha. Contudo, ao estudar as
inovações botânicas e as dificuldades do cultivo de seringueiras no Brasil,
Dean deixou de examinar o quadro político e cultural mais amplo nos Estados
Unidos que alimentou (ou negou) as perspectivas de um ressurgimento do comércio
de borracha na Amazônia. Metodologicamente, o enfoque adotado por Dean reflete
uma compreensão mais restrita da história ambiental como um estudo dialético
das condições "naturais" que governam o relacionamento entre seres
humanos e o ecossistema, em detrimento de um exame mais amplo do caráter
predominantemente social dessas relações.23Mais
instrutivo, ao abordar as formas em que os usos e significados da natureza
amazônica se constroem culturalmente e se embasam historicamente, é o insight
do antropólogo Arjun Appadurai, o qual postulou que "as coisas não têm
significados à parte daqueles que as transações, atribuições e motivações dão a
elas".24
Entre seus defensores nos Estados Unidos, a recriação da natureza amazônica
prometia novas direções para a economia norte-americana e para o comércio
interamericano, comunhão entre as culturas e até regeneração espiritual; de
fato, para os isolacionistas, a autossuficiência hemisférica em matéria-prima
poderia evitar o apocalipse. Os significados salvacionistas mais profundos que
os norte-americanos atribuíram à floresta amazônica ou dela derivaram refletem
as visões políticas e os mitos culturais estabelecidos na sua própria
sociedade, tanto quanto na paisagem tropical.
A lei de
desenvolvimento hemisférico da borracha foi concebida pelo vice-presidente
Henry A. Wallace, culminando seus esforços como secretário da agricultura
(1933-1940) para aumentar o comércio da América Latina com os Estados Unidos.
Wallace havia defendido internamente, como necessárias ao sucesso do New
Deal, políticas que favoreciam o manejo científico da agricultura, as
máximas produtividade e distribuição, a promoção do comércio e da cooperação
internacionais através de baixas tarifas e a aplicação de leis antitruste para
desafiar os monopólios industriais.25
Nesse sentido, Wallace era um antigo defensor do desenvolvimento de produtos
tropicais e outras culturas complementares na América Latina para aumentar o
comércio com os Estados Unidos. Embora a agricultura respondesse por 80% da
receita de exportações na América Latina entre 1930 e 1940, metade dessas
culturas competia com produtos dos Estados Unidos; e, enquanto as importações
norte-americanas de produtos tropicais e semitropicais antes da guerra haviam
chegado a 236 milhões de dólares, a América Latina fornecia menos de 16 milhões
desse total. No Oitavo Congresso Científico Americano em Washington, em maio de
1940, Wallace propôs a criação de um instituto de pesquisa agrícola
interamericano para promover o desenvolvimento da agricultura tropical nas
Américas. No verão de 1940, Wallace criou o Office of Foreign Agricultural
Relations (FAR) para estimular o treinamento em agricultura e promover a
diversificação de cultivos, enviando especialistas para várias repúblicas
latino-americanas.26
A borracha
amazônica era um exemplo perfeito de uma commodity tropical produzida no
hemisfério ocidental e subutilizada pela indústria norte-americana. Em 1938,
por exemplo, os Estados Unidos gastaram um milhão de dólares na compra de
borracha de toda a América Latina, enquanto 119 milhões foram gastos com a
Ásia.27
Um artigo publicado na Agriculture in the Americas (publicação do FAR)
apontava:
O
estabelecimento de uma bem-sucedida agroindústria [da borracha] no hemisfério
ocidental, paralelamente ao incentivo de outras culturas complementares,
representaria um significativo avanço nos níveis econômico, financeiro e social
em muitos países. Aproveitando os muitos recursos da América Latina, estaremos
dando às nações ao Sul de nós o poder de compra necessário para criar uma
sólida fundação para duradouras relações comerciais. É um postulado econômico:
o comércio não é uma via de mão única. Para poder exportar, precisamos
importar, e não podemos vender para aqueles que não têm dólares para comprar de
nós. (Apodaca, 1941, p.11)
Em Pan
America (1940), o jornalista radical Carleton Beals endossou também um
"programa de visão de longo prazo" para a produção e diversificação
geográfica de materiais essenciais, particularmente no hemisfério ocidental
como um todo. No caso da borracha, Beals lamentou a cumplicidade dos
fabricantes norte-americanos de manufaturas e das políticas de comércio dos
Estados Unidos no sustento de práticas monopolistas europeias que prejudicavam
os consumidores norte-americanos. Ele criticou:
se o preço
médio dos últimos 25 anos for levado em conta, descobrir-se-á que teria sido
mais barato pagar mais pela borracha brasileira, e que poderíamos mesmo ter
gastado bilhões para financiar toda uma indústria da borracha na América do Sul
e também uma indústria sintética e, como nação, ainda ter dinheiro no bolso.
Beals
argumentava que, "com tempo e planejamento cuidadoso", a América
Latina poderia fornecer "toda a borracha que usamos". Ainda que não
acreditasse que a extração da borracha crua no Brasil pudesse aumentar a ponto
de compensar um corte imediato no suprimento asiático, argumentava que
"não há razão para que o hemisfério ocidental não deva se tornar
completamente independente do Oriente em relação à borracha". Em parte,
Beals contrapunha o apelo da natureza generosa à falácia da degeneração
tropical: "A seringueira se originou neste hemisfério, o clima e o solo
são apropriados e o transporte é facilmente feito nas grandes bacias
hidrográficas da América do Sul". Porém, acima de tudo, ele defendeu
políticas governamentais que estabelecessem um sistema de cotas mínimas,
abatimentos, preferências tarifárias, assistência técnica e contratos de longo
prazo com governos e indústrias estrangeiros, que possibilitariam à borracha
latino-americana competir com as exportações asiáticas. Ele afirmou:
Não
deveríamos nos preocupar se o aumento na produção de borracha é obtido através
do capital federal ou privado ou latino-americano. O importante é ter uma
quantidade definida e garantida de borracha produzida aqui no Novo Mundo, livre
do monopólio por uma única potência, garantindo preços estáveis para uma de
nossas principais indústrias, trazendo segurança contra a escassez em tempos de
guerra, ajudando a criar um comércio bilateral com a América Latina e criando
uma base mais democrática para essas relações comerciais, laços políticos e
solidariedade continental. (Beals, 1940, p.xi-xiv, 454-476, 499-500)
Dada a
centralidade da fronteira na formulação de classe, gênero e identidades nacionais
nos Estados Unidos, para não falar de suas ideologias imperialistas na América
Latina, não surpreende que observadores tendessem a dourar a Amazônia através
de suas próprias lentes de familiaridade cultural.28
Na realidade, o uso do termo "fronteira" pelos norte-americanos nessa
época para descrever a Amazônia em si mesmo é revelador do desencontro cultural
do pan-americanismo, uma vez que o português brasileiro não conta com termo
análogo.29
Seria realmente complicado para os autores norte-americanos entender ou
explicar a seus leitores as especificidades do comércio da borracha na Amazônia
- com seu sistema de endividamento que ligava comissários (aviadores),
seringalistas e seringueiros. Assim, em seu elogio dos seringueiros brasileiros
como "os verdadeiros pioneiros do vasto interior", Frances Ahl
afirma: "Eles são os William Beans e James Harrods, os John Seviers e
James Robertsons, os Daniel Boones e David Crocketts, os Marcus Whitmans e Kit
Carsons. Eles estão avançando, lentamente conquistando as vastas fronteiras da
Amazônia" (Ahl, 1941, p.157). Contudo, a descrição de Ahl sugeria que a
Amazônia, povoada por heróis populares norte-americanos com uma roupagem
diferente, estava destinada a seguir a mesma trajetória histórica da fronteira
norte-americana, com seus pequenos proprietários de terra e intrépidos
pioneiros.
Porém, mais
intrigantes que doses de previsível autorreferência são as várias formas como
os norte-americanos imaginaram a "fronteira" amazônica entre o final
da década de 1930 e o início dos anos 40. Para alguns observadores
norte-americanos, o valor de uso da fronteira amazônica estava em suas
recompensas materiais. Imagens da Amazônia como o El Dorado esperando seu
conquistador ianque foram prontamente recicladas. Ahl, censurando "o
escritor medíocre [que] exagera enormemente os terrores da selva",
afirmou:
nenhum ser
humano pode se dar conta das oportunidades de adquirir riqueza e dinheiro no
grande vale do Amazonas, para aqueles dispostos a fazer o sacrifício imposto
por um clima tropical e as difíceis condições de vida... enormes riquezas se
encontram na floresta equatorial, oferecendo oportunidades de lucro
incomparáveis em todo o mundo. (Ahl, 1941, p.18-19, 119)
E, num
relatório de 1939 sobre as condições econômicas da América Latina, Nicholas
Roosevelt, enviado para a região por interesses empresariais norte-americanos,
mencionava a Amazônia como um exemplo perfeito de uma região onde o futuro
transporte aéreo prometia reduzir os altos custos para se fazer negócio, que
tradicionalmente mantiveram baixo o padrão de vida e aumentaram despesas para
investidores e produtores. 30Essas
representações atualizaram as descrições da Amazônia como um El Dorado, e da
América Latina como um "amplo reservatório de riquezas naturais com o
potencial para servir como uma nova fronteira e o centro de uma nova
civilização".31
No entanto,
a transformação da Amazônia de selva em fazenda, sob a égide da ciência moderna
e do governo ilustrado, prometia também um futuro democrático e um
rejuvenescimento espiritual para a "humanidade" (Pike, 1998, p.1,
21). Transpondo para o Sul o mito turneriano da regeneração moral da fronteira,
Earl Parker Hanson proclamou, entusiasmado, em sua Jornada para Manaos
[1938], sobre o futuro da Amazônia:
O homem
comum dificilmente será capaz de imaginar quão difundida é a ideia, mesmo nos
Estados Unidos, de que a colonização da América do Sul daria novo fôlego ao
nosso mundo civilizado. Porém, tendo me interessado, vejo-me a cada momento
confrontado com o argumento romântico de que a conquista dos espaços vazios na
América do Sul faria pelo hemisfério ocidental o mesmo que a conquista do Oeste
fez pelos Estados Unidos num período crítico... a colonização do interior
sul-americano daria um estímulo milagroso à prosperidade e à consequente
liberação de nossos espíritos reprimidos.
É bem
verdade que Hanson enfatizou a importância de políticas públicas para promover
a pesquisa agrícola e desenvolvimento em saúde, nutrição e educação, mas sua
postura científica ainda trazia latente o ideal romântico da Amazônia
colonizada como um espaço redentor:
quando o
mundo sair do impasse atual entre filosofias sociais e econômicas amargamente
opostas, quando a nuvem de medo e confusão em que hoje vivemos houver se
dissipado, assistiremos a uma liberação de energia tão grande que, como a
renascença que se seguiu à última Idade Média, enviará pioneiros para todos os
cantos selvagens do mundo, assim como a liberação da energia russa já permitiu,
na Sibéria, a maior expansão para o Norte jamais vista pelo mundo.32
Da mesma
forma, Carleton Beals proferiu uma visão milenarista em Future of the Amazon
(1941), antecipando que o acesso às riquezas naturais da Amazônia revelaria
"novos segredos para o domínio humano da Terra" e elevaria o
"gozo material e espiritual nela experimentados". Beals afirmou:
Certamente,
até que o homem faça uma investida determinada e científica nessa região, o
Novo Mundo não terá realizado por inteiro seu potencial; não se poderá dizer
que a América do Sul alcançou sua maturidade ou encontrou seu verdadeiro lugar
como um dos grandes continentes ativos da Terra. Está aqui uma das últimas
grandes fronteiras físicas do homem. Domar este grande desertoªvai
exigir a mais extensiva aplicação do conhecimento político e econômico, os mais
avançados instrumentos da ciência e as mais nobres intenções de aprimoramento
humano.
Beals
saudava novas técnicas científicas, como a medicina tropical, o condicionamento
do ar (que permitiria "grandes cidades com ar condicionado se erguerem às
margens do Amazonas e de seus tributários"), a melhora do transporte
fluvial com a construção de canais e barragens; o cultivo de variedades de
seringueiras mais produtivas e resistentes a doenças, "desenvolvidas e
estabilizadas em pequenas propriedades", e o avião. Demolindo teorias
climáticas e raciais que povos do hemisfério Norte haviam historicamente
invocado para explicar as desigualdades globais e legitimar o colonialismo,
Beals exortava:
Mobilizemos
as forças do Novo Mundo para uma incursão concertada, planejada e científica à
bacia amazônica. Que a iniciativa não tenha nenhuma marca do imperialismo. Que
ela seja feita em espírito de cooperação dos povos livres para expandir o
bem-estar da humanidade. Qualquer que seja o destino da Europa, podemos fazer
uma nova América.33
Contudo, ao
sacralizar a Amazônia, colocando-a como o lugar da redenção pan-americana, cuja
consagração eludia a capacidade tecnológica e a "maturidade" do
Brasil sozinho, Beals prefigurava um mantra popular do pós-guerra no hemisfério
Norte: a noção da Amazônia como patrimônio ambiental da "humanidade",
ao invés de um território soberano de diferentes nações sul-americanas.
Para o America
First Committee, formado em setembro de 1940 para se opor à intervenção
norte-americana na guerra, a extração da borracha amazônica (juntamente com a
produção e o armazenamento de estoques de outras matérias-primas no hemisfério
ocidental) literalmente salvaria os Estados Unidos da catástrofe iminente.
Abraçando o pan-americanismo como uma alternativa ao envolvimento nos conflitos
do Velho Mundo, o America First dedicou significativa atenção ao comércio
com a América Latina. Dominado por republicanos contrários ao New Deal,
o America First tinha apenas cerca de 250 mil membros, concentrados
principalmente no interior do país. Porém, através de grandes comícios, da
distribuição copiosa de material impresso, do patrocínio de locutores de
estações de rádio nacionais, da pesquisa e do fornecimento de informações para
o Congresso, a organização tornou-se muito influente na defesa de uma posição
anti-intervencionista nos Estados Unidos, forçando Roosevelt a ser mais contido
em suas propostas legislativas.34
Por exemplo, o America First criticava os "alarmistas" que
diziam que os japoneses poderiam debilitar a economia americana com um ataque
às commodities estratégicas do Sudeste asiático: "Não precisamos ir
à guerra por causa de borracha ou cobre; nossos rapazes não precisam lutar e
morrer em Dong Dang [sic] ou Bangkok. O hemisfério ocidental é
autossuficiente em matérias-primas" (Marshall, 1995, p.27-28). Ou,
como esbravejou o senador Robert La Follette, num discurso no Congresso, em 24
de fevereiro de 1941:
se, a nossos
fantásticos recursos, adicionarmos os de uma América Latina amiga,
conseguiremos superar nossa maior deficiência: a de borracha - borracha que foi
originalmente desenvolvida no hemisfério ocidental e que pode agora ser trazida
de volta para satisfazer nossas necessidades... Com esses recursos fabulosos,
com o poder humano e o poder das máquinas de transformá-los em bens para
satisfazer a fome humana por sustento e sentido, podemos acabar com o paradoxo
da pobreza em meio à abundância. Podemos erguer um farol para iluminar o modo
de vida em liberdade para toda a humanidade. (citado em Doenecke, 1990, p.128)
Elogiando as
missões exploratórias da borracha na América Latina organizadas pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e um acordo com o Brasil que
autorizava o governo a comprar todo o excedente da borracha brasileira
produzida para exportação, o America First se comprazia em afirmar que
"em dez anos, a produção brasileira voltaria à sua antiga
preeminência" (Doenecke, 1990, p.154, 173).
O entusiasmo
com a Amazônia, forjado nos desdobramentos políticos do pan-americanismo e em
meio à incerteza global, evoluiu a partir de vários tropos culturais dos
Estados Unidos e ao mesmo tempo os evocou. O projeto hemisférico da borracha
foi, inicialmente, alardeado como uma estratégia geopolítica para forjar laços
interamericanos e diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação aos
mercados do Velho Mundo. Porém, a reabilitação do comércio amazônico propunha
reorientações radicais para o capitalismo industrial norte-americano, refletia
visões providencialistas de uma cornucópia edênica através da troca e do
armazenamento de cultivos complementares, invocava uma renovação espiritual por
meio da comunhão cultural e prometia ganhos materiais e regeneração política
através da conquista da fronteira.35
Contudo, apesar de conjurarem a floresta tropical como arsenal, laboratório,
fazenda ou templo, os defensores da modernização da Amazônia enfrentavam
dificuldades para convencer os céticos compatriotas da sua indispensabilidade
para a política econômica dos Estados Unidos. Seus detratores argumentavam que
os plantations de borracha da América Latina, mesmo se bem-sucedidos,
levariam, na melhor das hipóteses, pelo menos dez anos para produzir: dois anos
para plantar sementes, criar mudas em viveiros, esperá-las brotar e
transplantá-las; mais dois anos para começar uma plantação; outro cinco antes
que a extração pudesse começar (Brandes, 1941, p.11). E, no
curto prazo, com sua pequena produção, o comércio da borracha silvestre da
Amazônia não conseguiria saciar o voraz apetite dos consumidores
norte-americanos. Relatórios do U. S. Army and Navy Munitions Board e da
U. S. Tariff Comission asseveraram, em 1940, que a borracha amazônica
seria incapaz de substituir a oferta asiática em curto prazo, na hipótese de
uma crise.36
De fato, os
meros 500 mil dólares destinados pelo Congresso norte-americano em 1940 para
campos de pesquisa de borracha e para o estabelecimento de estações
experimentais no Brasil e em outros países do hemisfério ocidental refletiam a
relativa fraqueza dessa posição nos círculos decisórios - particularmente em
comparação com os 700 milhões de dólares gastos pelo governo dos Estados Unidos
no desenvolvimento de borracha sintética durante a guerra. Por sua vez, os
grandes manufatureiros norte-americanos da borracha, acomodados aos esquemas
restritivos da Europa, relutavam em investir em plantations de borracha
no hemisfério ocidental, especialmente depois do fracasso de Henry Ford na
Amazônia. Como afirmou a companhia Goodyear: "o estabelecimento de plantations
de borracha no hemisfério ocidental para satisfazer nossas necessidades de
borracha dificilmente pode ser considerada uma solução prática".37
Plantations de borracha na Amazônia não seriam impossíveis, mas eram
dispendiosas, e as companhias norte-americanas não estavam dispostas a correr o
risco.38
Além disso, se o significado é algo produzido dentro de contextos simbólicos
preexistentes (que variam de acordo com o grupo cultural),39
os norte-americanos se aferravam a imagens gastas da degeneração tropical. Em
1940, William La Varre, membro da Royal Geographical Society e da American
Geographical Society, observou, a respeito da sua jornada nas florestas
tropicais da América do Sul: "A selva não é amiga de ninguém. Alguns homens
ficam loucos lá - loucos com a escuridão, loucos com o calor, loucos com
quarenta dias de chuva, loucos consigo mesmos".40
No seu Lets See South America (1939), Anna Witherspoon se maravilhava com a "grande variedade e
a abundância de vida animal e vegetal" nas florestas tropicais, mas
reclamava que "o clima quente e a natureza induziam à preguiça", que
os homens trabalhavam "apenas o suficiente para prover suas necessidades
básicas. Eles são despreocupados e irresponsáveis".41
(Numa pesquisa do final de 1940 feita pelo Office of Public Opinion, os
entrevistados tiveram de escolher, entre dezenove adjetivos, aqueles que melhor
descreviam todos os habitantes das Américas Central e do Sul: entre 40 e
50% escolheram "destemperados", "emocionais",
"supersticiosos", "atrasados", "preguiçosos",
"ignorantes" e "suspeitos", enquanto apenas 5% escolheram
"eficientes") (Pike, 1998, p.291-292).
De fato,
nenhuma das opções à excessiva dependência norte-americana da borracha crua
asiática foi seguida com sucesso, antes de Pearl Harbor. Em junho de 1940,
Roosevelt delegou à recém-criada Rubber Reserve Company (RCC) - agência
governamental com orçamento de 140 milhões de dólares, subordinada à Reconstruction
Finance Corporation - a missão de estocar borracha crua e, ao mesmo tempo,
estabelecer uma indústria da borracha sintética.42
Porém, o medo de um crescimento exagerado, seguido de uma contração, assombrava
autoridades do governo e líderes empresariais, deixando o país vulnerável na
ocasião do ataque japonês. Com sua inclinação a favor da empresa privada e do
corte de custos, a Rubber Reserve havia apostado pouco na borracha crua
num mercado global cada vez mais competitivo, permitindo que o látex fosse
rapidamente consumido por outros países e pela indústria privada nos Estados
Unidos. Além disso, não conseguiu criar a base para uma indústria de produção
em massa de borracha sintética. Roosevelt, fragilizado pelo sentimento
isolacionista, pela oposição interna e pela própria indecisão, moveu tímidos
esforços para armazenar estoques de borracha e de outras matérias-primas
estratégicas; e a população norte-americana, ainda se recuperando da depressão
econômica e cautelosa ante um novo envolvimento nos conflitos do Velho Mundo,
não conseguiu se mobilizar para pressionar por alternativas. A integração
vertical da produção e da manufatura de borracha exigia um grau de intervenção
governamental que não era sustentável interna ou externamente, antes que o
Japão tomasse o controle das colônias produtoras de borracha do Sudeste
asiático.43
De fato, o fracasso do governo norte-americano em desenvolver a borracha
sintética, encontrar fontes alternativas de borracha ou criar estoques
emergenciais durante o período entre-guerras refletia, basicamente, as
limitações de uma política pública que havia delegado a aquisição de materiais
estratégicos à iniciativa privada, mas não tinha poder para obrigar as
corporações a buscar ou desenvolver fontes alternativas de borracha crua ou
sintética.44
A entrada dos Estados Unidos na guerra depois de Pearl Harbor acabou não apenas
com as ilusões da "paz hemisférica", mas também com o impasse
político em relação à dependência da borracha. Na medida em que o envolvimento
do governo norte-americano na Amazônia se intensificava, o mesmo acontecia com
os debates sobre a importância da região para o país.
SALVEM A
AMAZÔNIA: O NEW DEAL PARA A FLORESTA DO BOARD OF ECONOMIC WARFARE
Quando os
japoneses tomaram o controle das colônias produtoras de borracha do Sudeste
asiático em fevereiro de 1942, os Estados Unidos perderam o acesso a 97% de
suas fontes tradicionais. Com um estoque governamental de apenas 570 mil
toneladas de borracha crua - suficiente para menos de um ano - e uma indústria
sintética embrionária, a nação se viu diante da possibilidade de falta de
borracha para o exército e para outras demandas essenciais em janeiro de 1944
(e essa estimativa não levava em conta o uso de borracha em automóveis civis).
O Rubber Survey Committee, criado por Roosevelt em agosto de 1942 para
determinar o curso de ação apropriado para o governo, apoiou a rápida expansão
do programa sintético, o racionamento de gasolina em todo o país, um limite
nacional de velocidade de 35 milhas por hora (para prolongar a vida dos pneus
dos automóveis) e a indicação de um Rubber Director para supervisionar
as medidas (Tuttle, 1981, p.35-67). Mesmo priorizando os sintéticos,
os atrasos para montar novas indústrias, assim como a indispensabilidade da
borracha natural para pneus de caminhões e aviões, levaram o governo
norte-americano a se envolver mais diretamente em projetos para aumentar a
produção de borracha crua na América Latina. Tendo em vista o intervalo entre o
plantio e a colheita, o cultivo da hevea no Brasil, até então favorecido
pelo Departamento da Agricultura dos Estados Unidos e pelo regime Vargas, foi
considerado impraticável para uso imediato em tempos de guerra, dando um
estímulo inesperado ao comércio tradicional da borracha silvestre na Amazônia.
A
historiografia brasileira da "batalha da borracha" enfatizou
amplamente o contexto e o escopo do envolvimento dos Estados Unidos na Amazônia
durante a guerra.45Em
acordos bilaterais assinados com o Brasil em Washington em março de 1942, os
Estados Unidos criaram um fundo de cinco milhões de dólares para melhorar a
qualidade da borracha produzida na Amazônia, e uma quantia similar para
financiar um programa de saúde e saneamento nas áreas produtoras de borracha
(McCann, 1974, p.267-268; Moura, 1980, p.167-168). O acordo previa a venda de
todo o superávit exportável de borracha crua do Brasil para os Estados Unidos
por um preço fixo até 31 de dezembro de 1946. Os Estados Unidos também se
comprometeram a subsidiar a migração de dezenas de milhares de nordestinos para
a Amazônia, para extrair borracha. Contudo, as controversas visões do comércio
de borracha na Amazônia entre agentes do governo norte-americano, durante a
guerra, não têm sido objeto de um exame sistemático, um exercício que pode
historicizar como fatores econômicos e ideológicos informaram e dividiram as
opiniões no hemisfério Norte sobre a floresta.
A maior
capitalização do comércio da borracha na Amazônia não resolveu, para os agentes
do governo dos Estados Unidos, o velho dilema dos seringalistas: a capacidade
de ditar a velocidade da produção quando os seringueiros mantinham seu próprio
ritmo de trabalho e padrão de vida. Os donos das terras na Amazônia tinham,
tradicionalmente, obtido mais lucro de seus "fregueses" através de um
sistema monopolista de vendas e endividamentos dos trabalhadores, e não pela
produção propriamente dita de borracha.46
Os agentes do governo dos Estados Unidos, tentando maximizar a produção de
látex para o esforço de guerra, tinham, claramente, prioridades diferentes, mas
estavam divididos em relação à melhor estratégia para aumentar a quantidade de
borracha produzida. John Hertz, Conselheiro Especial do Subsecretário de
Guerra, afirmou que o preço baixo da borracha iria desencorajar os seringueiros
a produzir látex e/ou induzir a extração de outros produtos da floresta:
"é de se duvidar se ele estará disposto a assumir os riscos de trabalhar
em selvas e florestas pela pequena porção... que eventualmente receberia por
seu trabalho".47
Seus opositores, porém, reclamavam que preços altos levariam os comerciantes a
estocar a mercadoria e seringueiros desleixados a desistir de trabalhar de vez,
uma vez obtido um pequeno lucro.48
Como em outras políticas de obtenção de matéria-prima no hemisfério, os agentes
do governo norte-americano debatiam se o maior perigo das políticas de
bem-estar nos acordos externos seria irritar os empregadores ou radicalizar os
trabalhadores.49
Com a crise
da borracha acirrando os ânimos nos Estados Unidos, a Amazônia se viu
rapidamente no meio da disputa política. O conflito sobre a política de
obtenção de borracha na Amazônia se originou, em sentido estrito, de uma
superposição de competências, característica do estilo de governança de
Roosevelt, que tentava manter uma improvável aliança entre liberais do Norte e
conservadores sulistas que formavam sua base de poder no Partido Democrata.
Desde junho de 1940, a Reconstruction Finance Corporation (RFC) tinha
desfrutado de poderes expandidos por causa da guerra, o que lhe permitia criar
corporações subsidiárias para defender o interesse nacional e para a aquisição
de matérias-primas estratégicas. A Rubber Reserve, uma de suas
subsidiárias, tinha sido autorizada a produzir, adquirir, transportar e
negociar borracha e a tomar empréstimos da RFC.50
Após a invasão japonesa da Malásia, a RFC foi atacada na imprensa: atribuiu-se
a culpa pelo agravamento da escassez de borracha a sua abordagem de obtenção
orientada para os negócios privados e corte de custos, promovendo interesses
corporativos, além de ter-se mostrado incapaz de tomar decisões. Por meio da
Ordem Executiva 9128, de 13 de abril de 1942, Roosevelt investiu o Board of
Economic Warfare (BEW, antes chamado de Economic Defense Board),
dirigido pelo vice-presidente Henry Wallace, de completo controle sobre o
direcionamento da produção e a obtenção de toda matéria-prima do exterior. De
acordo com a Ordem Executiva, a Rubber Reserve não teria poder para
delegar autoridade ou delimitar as responsabilidades de seus representantes e
para decidir o uso de fundos de desenvolvimento sem ordem do BEW.51
Teoricamente, a Rubber Reserve serviria agora como a agência
administrativa do governo para levar a cabo os planos formulados pelo BEW.52
A repartição
de competência sobre as políticas da borracha entre a RFC e o BEW, entre abril
de 1942 e fevereiro de 1943, engendrou lutas internas na burocracia. Como o
Departamento de Estado reclamava ao presidente, a Ordem Executiva de 13 de
abril de 1942, conferindo novos poderes e funções ao BEW para a aquisição e o
desenvolvimento de materiais estrangeiros, ia de encontro aos procedimentos
existentes para negociações com governos estrangeiros - conduzidas pelo
Departamento de Estado - e a função de gerência operacional, que foi assumida
pela RFC. Usando de atrasos e de parcimônia, o presidente da RFC, Jesse Jones,
retardou as ações e o escopo do programa de obtenção de matérias-primas do BEW
(Blum, 1976, p.283). Em dezembro de 1942, frustrados com a RFC, executivos do
BEW prestaram depoimento perante o Comitê do Sistema Financeiro e de Assuntos
Monetários do Senado, atestando o fracasso de Jones em cumprir a instrução para
estocar materiais estratégicos, incluindo o atraso no programa da borracha, sob
sua responsabilidade, assim como a estagnação da coleta de borracha silvestre
na América do Sul.53
Milo Perkins, o diretor do BEW, que atribuía mais importância à rápida
aquisição de borracha e da boa vontade internacional que ao preço pago por
isso, afirmou: "Em minha opinião, tendo em vista o preço da borracha,
deve-se ignorá-lo completamente e conseguir cada quilo que pudermos, a despeito
dos custos".54
Mas a dura
disputa sobre a política de obtenção de borracha derivava ainda da competição
entre as visões de diferentes facções do Partido Democrata - que refletiam a
aguda divisão ideológica dentro do próprio partido (Schapsmeier, 1971, p.57).
Com o início da guerra, Roosevelt havia proclamado o fim do liberalismo do New
Deal e feito um apelo à unidade nacional. Pouco depois de Pearl Harbor, ele
observou: "O slogan era Vencer a guerra antes de pensar muito nos planos para o pós-guerra" (Walker, 1976, p.93). Mas, se Roosevelt não usaria a guerra para promover reformas, ele não abandonaria de todo suas bandeiras, aprovando a posição que o vice-presidente assumira, de um audacioso porta-voz para testar
a reação de plateias nacionais e internacionais a propostas políticas - para o
tempo de guerra e para o pós-guerra - mais ousadas do que o presidente poderia
se arriscar a defender. Para Wallace, assim como para outros adeptos do New Deal,
a guerra trazia várias expectativas sobre o pós-guerra, tornando difícil traçar
distinções claras entre as preocupações estratégicas e o planejamento do
pós-guerra. Ele afirmou: "estamos delineando o mundo do pós-guerra agora
mesmo".55
Temendo que o papel preponderante das grandes empresas durante a guerra
permitisse que se firmassem práticas de negócios conservadoras, que os
programas de bem-estar social nos Estados Unidos sofressem ataques e que erros
na política externa norte-americana pudessem contribuir para conflitos
internacionais, Wallace defendeu o apoio dos Estados Unidos à industrialização
de países mais pobres e a criação de agências internacionais para fazer
empréstimos de longo prazo a "nações industrialmente atrasadas".56
Ademais, o BEW pôs em prática políticas do New Deal, que enfatizavam a
importância de pagar salários mais altos e promover o bem-estar social dos
produtores de matérias-primas na América Latina, em meio a um desenvolvimento
econômico em bases mais amplas.
A política
em relação à borracha se tornou, durante a guerra, um campo de batalha para os
ideais do vice-presidente de garantir estabilidade econômica de longo prazo e
justiça social, tanto na América Latina como nos Estados Unidos. Mesmo tendo o
BEW reconhecido os numerosos obstáculos para aumentar a produção na América
Latina - a falta de mão de obra, péssimas condições sanitárias, suprimentos
inadequados e transporte ruim -, Wallace considerava a "aquisição
imediata" de borracha silvestre do Vale do Amazonas um dos mais
importantes projetos do BEW.57
Atacando os "sistemas de cadernetas" e qualquer outra forma de
provisão de mão de obra escravizada por dívidas - que atavam o trabalho a
vínculos de servidão, restringindo a mobilidade dos seringueiros na Amazônia -,
o BEW prometeu evitar "uma repetição dos escândalos do último ciclo da
borracha, mesmo numa escala reduzida".58
Os agentes do BEW insistiram na oferta de preços mais altos pela borracha,
melhoramento da condição social dos seringueiros e apoio ao desenvolvimento da
infraestrutura da Amazônia como políticas essenciais para o sucesso do
programa.59
O Office of Inter-American Affairs (OIAA) estava igualmente comprometido
com a implantação de programas de saúde e nutrição na América Latina, a fim de
aumentar a produtividade do trabalho e conquistar corações e mentes, assim como
preparar o terreno para o desenvolvimento da economia e do comércio no
pós-guerra e para a expansão do mercado para firmas norte-americanas (Wallace e
Rockefeller jogavam tênis regularmente e o vice-presidente costumava aproveitar
a ocasião para doutrinar Rockefeller sobre o destino dos pobres na América
Latina: "Eu disse que a solução para o problema requeria um novo espírito
missionário, um espírito que tenha apelo junto a religiosos e também a
empresários").60
Assim, o BEW alertou que a produção de borracha não aumentaria, a não ser que o
governo norte-americano tomasse medidas vigorosas para interromper o rápido
aumento do custo de vida para os trabalhadores, melhorando as condições
econômicas e aumentando a produção agrícola e o fornecimento de suprimentos na
Amazônia. O BEW conduziu numerosos estudos para determinar a quantidade de
borracha produzida por seringueiro, o pagamento por quilo para cada
seringueiro, o preço cobrado pelos suprimentos, e o lucro, se algum, que os
seringueiros acumulariam ao final da temporada; a agência também comparou esses
valores com o nível salarial no Nordeste brasileiro e em outras ocupações na
própria Amazônia.61
Projetando um cenário ideal, o BEW havia preparado um plano de incentivo à produção,
que previa que os seringueiros em cada região teriam uma cota média a cumprir e
seriam recompensados, em dinheiro, em bens ou em prêmios, diretamente pela Rubber
Reserve, pela produção além dessa cota. Agentes do Board of Economic
Warfare esperavam ainda que a competição entre seringalistas levasse à
melhora das condições dos seringueiros.62
Os agentes
do BEW tinham uma visão profundamente crítica da influência das corporações
norte-americanas nas operações da Rubber Reserve na região da Amazônia,
que privilegiavam empresas privadas (na sua maioria, brasileiras), limitando o
envolvimento do governo. Na América do Sul, como perceberam os agentes do BEW,
os "poucos e seletos homens" empregados pela Reconstruction
Finance Corporation eram cidadãos norte-americanos pessoal e
financeiramente envolvidos com as indústrias produtoras.63A
lista de suspeitos incluía: J. W. Brickell, vice-presidente executivo da Rubber
Reserve, que, por muitos anos, havia supervisionado as operações da United
States Rubber Company na Ásia; R. B. Bogardus, vice-presidente da Rubber,
oriundo da Goodyear Tire and Rubber Company; William Clayton, o
secretário-assistente de comércio e diretor do programa de compras exteriores
da RFC, presidente da Anderson-Clayton, agência de corretagem de algodão, dona
de máquinas compressoras de algodão, máquinas descaroçadoras e depósitos no
Brasil e em outros países sul-americanos; e Maurice McAshan, o principal
representante da RFC e vice-presidente da Rubber no Brasil, e genro de
Clayton.64
Ao retornar da Amazônia brasileira, em agosto de 1942, Paul R. Hays, chefe da
Seção de Desenvolvimento da Divisão da Borracha do BEW, fez duras críticas ao
mau planejamento e à organização do programa da borracha, cujos responsáveis
negligenciavam o problema da comida e dos suprimentos para os seringueiros,
mostrando-se incapazes de protegê-los. Desafiando a propalada imagem de
eficiência dos agentes da Rubber Development, Hays declarou:
Não há razão
para acreditar que, apenas porque um homem teve sucesso como subordinado ao
cuidar de um empreendimento de interesse dos Estados Unidos de escopo comercial
limitado, ele vá ser capaz de organizar os enormes problemas de suprimento, mão
de obra, transporte e produção na Amazônia. A ênfase em experiência comercial,
assim como a ênfase em experiência brasileira, está limitando a disponibilidade
de pessoal e produzindo empregos altamente frustrantes.65
Nesse
sentido, o BEW alertou a Rubber Reserve para que não se opusesse a um
salário mínimo e a uma legislação social, alegando que isso aumentaria o preço
da borracha, mas que usasse os fundos de desenvolvimento para ajudar os
produtores a pagar esses salários e cumprir os demais requerimentos. Além
disso, para proteger os direitos dos seringueiros, o BEW exigiu um
contrato-padrão, escrito, "protegendo adequadamente o trabalhador contra a
exploração".66
De fato, os
agentes do BEW apoiaram, em toda a América Latina, a implantação de modelos de
contratos obrigando governos e empresários a garantir salários justos (não
menos que aqueles pagos em operações comparáveis do contratador em outras áreas
do país em questão ou não menos do que aqueles pagos por outras pessoas por um
trabalho comparável), a obedecer às leis trabalhistas locais, a manter padrões
sanitários, suprimento de comida e abrigo para os trabalhadores empregados na
política de obtenção da matéria-prima para a guerra.67
Na primavera de 1943, havia mais de cem contratos com essas cláusulas. Várias
exigências do BEW seriam incluídas em contratos de trabalho oficiais para
seringueiros que foram instituídos (mas raramente adotados) pelo regime Vargas.68
Ao OIAA foi confiada a missão específica de prover assistência em programas de
saúde e saneamento na Amazônia, sob as cláusulas trabalhistas dos contratos do
programa da borracha.69
O BEW
defendia a importância de políticas sociais na América Latina empregando o
discurso da segurança nacional. Deixando de lado as considerações humanitárias,
condições ruins de trabalho se traduziam num material de guerra de pior
qualidade.70
A produção de borracha, segundo o BEW, estava diretamente ligada à redução da
taxa de mortalidade e ao aumento das "horas-homem anuais de trabalho
efetivo", através do controle da malária e do fornecimento adequado de
comida.71
Como política externa, medidas protecionistas nos contratos de obtenção de
matérias-primas conquistariam corações e mentes dos produtores rurais da
América Latina, ajudando-os a "ler e a escrever, melhorar suas técnicas
agrícolas e aprender noções básicas de mecânica".72
Além disso, o cumprimento de padrões mínimos de bem-estar pelo governo
norte-americano ajudaria a combater a propaganda nazista que buscava
desacreditar o programa de matérias-primas como uma forma de "imperialismo
ianque" que explorava os trabalhadores latino-americanos.73
Ajudaria ainda a controlar a onda de nacionalismo econômico na América Latina e
a fortalecer a posição dos Estados Unidos entre os setores mais progressistas e
liberais (Schapsmeier, 1971, p.57-58; Blum, 1973, p.151). Para evitar acusações
de intervencionismo, o BEW insistiu em que nenhuma das cláusulas dos contratos
visava aplicar a legislação trabalhista dos Estados Unidos em países
estrangeiros, mas seguir os padrões locais do país de origem.74
Os Estados Unidos não tomariam para si a responsabilidade de impor o respeito
às leis trabalhistas locais, a não ser na medida em que isso promovesse o
propósito da legislação local.75
Não
obstante, os agentes do BEW afirmaram que, no coração de suas iniciativas de
política externa, havia uma determinação histórica do governo dos Estados
Unidos em promover condições de trabalho justas em outros países.76Leonard
H. Heller, o chefe da Divisão da Borracha no Board of Economic Warfare,
foi bastante enfático sobre qual deveria ser a posição dos Estados Unidos na
Amazônia: "Acreditamos que uma agência do governo não deveria aceitar, no
Brasil, a escravidão por dívidas, o que seria inconstitucional nos Estados
Unidos".77
Os agentes do BEW falavam, com orgulho, da sua missão: "É a primeira vez
na história que um país, ao negociar produtos com outro, deu garantias
expressas contra a exploração do trabalho; e reconheceu, de forma franca e
realista, que homens e mulheres trabalhadores que recebem um salário justo,
cumprem uma jornada razoável e trabalham e vivem em condições decentes de saúde
e saneamento, produzem mais e melhores produtos que aqueles em outra
situação".78
A visão de
Wallace de um New Deal global, que chegaria ao "homem comum"
até mesmo no coração da Amazônia, foi abraçada por Charles Wilson, em seu Trees
and Test Tubes (1943). Na sua história mundial da indústria da borracha,
Wilson comparou o bem-estar dos trabalhadores dessa indústria nos Estados
Unidos com o de seringueiros nos trópicos. Ele observou que, enquanto os
trabalhadores das fábricas de pneus de Akron, no Ohio, recebiam bons salários,
seus
empregos eram, havia muito, desesperadamente ameaçados pela servidão, pela escravidão
por dívidas e pela amarga pobreza de centenas de milhares de trabalhadores
desconhecidos, de pele escura, do outro lado da Terra - aqueles outros homens
de borracha, cujo suor, esforço e sofrimento tornaram possível a maior parte do
movimento indispensável à vida e ao comércio nos Estados Unidos, assim como a
existência de pneus e trabalhadores nas fábricas de Akron.
Consternado,
Wilson se perguntou: "Como, num mundo do futuro, poderemos melhorar a
desgraçada condição dos cerca de 80% dos essenciais produtores de borracha, que
têm recebido menos que 25 centavos por dia?". Mais especificamente, ele
argumentava:
Teremos de
reconhecer o direito do trabalhador rural que produz borracha crua de ganhar
salários compatíveis com aqueles dos que fazem a manufatura final da borracha.
O futuro da borracha exige uma fraternidade internacional do trabalho.
Ultrapassando os limites nacionais e territoriais, exige justiça econômica - a
necessidade de uma justiça internacional do amanhã.
Wilson
defendia que o apoio norte-americano para a criação de fazendas familiares nas
Américas distinguiria sua política externa das práticas coloniais europeias que
empobreceram e exploraram trabalhadores estrangeiros:
As terras de
extração de borracha do hemisfério ocidental podem ser, e serão, terras de
homens livres e da iniciativa privada; o crescimento da borracha pode e irá se
incorporar a uma nova e melhor ordem da agricultura e do comércio no hemisfério
- uma ordem livre das anarquias dos cartéis internacionais e de outros
artifícios gerados pelo lucro exorbitante de uns poucos escolhidos e
frequentemente ausentes, tendo como preço a subjugação econômica e política de
inúmeros povos tropicais.79
Para Wallace
e outros progressistas, os desequilíbrios comerciais, remanescentes do
isolacionismo que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, desestabilizariam a
economia mundial e tornariam outra guerra "inevitável". Com o avanço
do Brasil e de outros países latino-americanos na produção de borracha natural
(em cuja eficiência a ser alcançada em alguns anos Wallace apostava, graças a
experimentos com enxertos e ao uso de variedades altamente produtivas de hevea),
o vice-presidente escreveu, preocupado, em seu diário: "uma barreira
tarifária para proteger uma indústria nascente da borracha sintética neste país
não só forçaria nossos consumidores a pagar mais caro, mas representaria um
duro golpe para esses países e sua fé em nossa amizade". Assim, quando
Jesse Jones rejeitou a sugestão de Wallace de que a borracha dos seringais na
América Latina poderia ser produzida, no futuro, por até dez centavos a libra,
o vice-presidente contra-atacou com outra justificativa para promover a produção
de borracha crua no hemisfério ocidental: "Eu disse a ele que, se
esperávamos vender alguma coisa para o resto do mundo depois da guerra,
teríamos de descobrir o que poderíamos aceitar do resto mundo. E a borracha é
uma dessas coisas". Convencido de que a indústria do petróleo, que
manufaturava o butadieno (um dos copolímeros da borracha sintética), tinha
promovido cinicamente a borracha sintética como necessária à segurança durante
a guerra, Wallace fulminou: "é evidente que o pessoal da indústria do petróleo,
interessado na criação de uma indústria que lhe seria lucrativa, sacrificou o
bem-estar nacional à própria cupidez ou ignorância". Wallace afirmou que
uma sábia
política de Estado para a borracha, que olhe para o futuro, levará em
consideração todos os fatores que listei - o baixo custo para motoristas, a
certeza do suprimento, a promoção da segurança através de laços de amizade com
nossos vizinhos neste hemisfério e relações internacionais mais amplas que vão
ajudar a assegurar um mundo pacífico.80
Nesse
sentido, Wallace havia reinventado um papel redentor para a generosidade
tropical: a borracha amazônica iria resgatar a cidadania norte-americana das
garras monopolistas do capitalismo industrial. (Ainda assim, reconhecendo que a
principal fonte de borracha durante a guerra seria a sintética, Wallace apoiava
controles governamentais para combater a fixação de preços e os trustes
corporativos e para assegurar maior flexibilidade na acomodação dos interesses
econômicos e políticos dos produtores latino-americanos que, acreditava, a
indústria privada iria desprezar.) (Schapsmeier, 1971, p.59).
A visão do
BEW para a Amazônia refletia o compromisso de Wallace com uma agenda
progressista global, voltada para restringir o capitalismo corporativo e
melhorar a condição social dos pobres na América Latina. Refletindo uma mistura
do idealismo cristão e do internacionalismo de Woodrow Wilson, Wallace anteviu
uma era em que a paz e a abundância abençoariam todos os povos (Schapsmeier,
1971, p.55; Walker, 1976, p.86). No projeto do BEW, a assistência
financeira, a orientação científica e a supervisão política providas pelo
governo dos Estados Unidos modernizariam e moralizariam a sociedade amazônica,
resgatando um mercado local que, por muito tempo, permanecera prisioneiro de
inescrupulosas empresas privadas, tanto domésticas como transnacionais. Wallace
pensava que os trabalhadores amazônicos mereciam um padrão de vida mais elevado
e uma existência mais digna. Nem o caráter nacional, nem o miasma tropical
impediam o aumento da produção de borracha na Amazônia, mas sim a exploração
dos seringueiros por seringalistas que, por sua vez, se viam numa posição de
desvantagem no comércio global, dominado por trustes corporativos.
O apoio de
Wallace à ajuda governamental dos Estados Unidos a nações em desenvolvimento
prenunciava a agenda do pós-guerra de agências como a U. S. Agency for
International Development. E sua defesa dos direitos dos trabalhadores na
Amazônia ecoava as lutas contemporâneas dos ativistas dos direitos humanos e
trabalhistas. Porém, no que em muito se assemelhava a Woodrow Wilson, Wallace
tinha uma visão etnocêntrica ao buscar reconstruir as nações latino-americanas
nos moldes progressistas dos Estados Unidos. Wallace tinha também uma
desconfiança inata da capacidade dos países latino-americanos de exercer um
governo competente (acusações similares foram feitas ao OIAA de Rockefeller,
que promoveu como uma missão civilizadora a americanização da saúde, da
agricultura e da vida cultural dos países latino-americanos, alardeando o
desenvolvimento econômico e a expansão do poder de compra estrangeiro sem
redistribuição da riqueza ou caridade).81Em
fevereiro de 1942, por exemplo, um mês antes da assinatura dos Acordos de
Washington, o BEW e o OIAA propuseram um ousado plano para uma operação
liderada pelos Estados Unidos na Amazônia, para melhorar o transporte, o
saneamento e a habitação.82Seria
criada uma Corporação de Desenvolvimento da Amazônia e metade de suas ações
seria de propriedade conjunta dos governos do Brasil e dos Estados Unidos, com
um brasileiro na presidência e um norte-americano como diretor-geral. A
proposta foi atacada pelos representantes brasileiros, que discordaram da
indicação de um agente norte-americano para o cargo de diretor-geral de uma
corporação cuja metade pertencia ao governo brasileiro.83
Não obstante, o BEW faria insistentes pedidos por um maior compromisso do
governo dos Estados Unidos com salários mais altos, condições de trabalho mais
justas, habitação e assistência médica adequadas e estoques de comida na
Amazônia, condenando os fracassos do regime Vargas na proteção do bem-estar dos
seringueiros, como exigia o contrato oficial de trabalho, assim como a
deferência dos agentes da Rubber Reserve para com as autoridades
brasileiras nesses assuntos.84
Mesmo que a
visão de Wallace para o desenvolvimento amazônico tenha vindo,
indubitavelmente, de programas do New Deal, como a Tennessee Valley
Authority, que buscavam combater o desequilíbrio regional e a pobreza
rural, ela também se conformava ideologicamente a certa visão imperial, em que
as colônias eram enxergadas como laboratórios da modernidade, onde cientistas,
técnicos, educadores e nutricionistas poderiam realizar experimentos de
engenharia social, supostamente para melhorar a condição dos povos mais
"primitivos".85
Embora os agentes do BEW reconhecessem claramente a miríade de desafios
econômicos, epidemiológicos e de infraestrutura que dificultavam uma reforma
total da Amazônia, acreditavam na missão transformadora dos tecnocratas e
servidores públicos norte-americanos. Dentro de uma longa tradição, o projeto
do BEW reflete a tendência de estrangeiros verem a Amazônia como tábula rasa.
Os internacionalistas do New Deal subestimaram não apenas a capacidade
de o comércio de borracha amazônico resistir à arregimentação aos princípios de
mercados e à supervisão governamental, mas também a feroz oposição dos
conservadores nos Estados Unidos a uma política externa que ameaçava seus
interesses econômicos e suas bases ideológicas.86
A RUBBER
DEVELOPMENT CORPORATION (RDC) E O "CORAÇÃO DAS TREVAS" AMAZÔNICO
Hostis a um
maior estatismo nos Estados Unidos, mesmo em tempo de guerra (para não
mencionar períodos de normalidade), os conservadores resistiram às ideias de
Wallace sobre a ajuda econômica dos Estados Unidos e outras políticas
reformistas que buscavam melhorar as condições sociais dos pobres na América
Latina (Hoffman, 1992, p.67). Ao resumir o desdém corporativo pela agenda de
Wallace, W. P. Witherow, presidente da Associação Nacional de Manufatureiros,
declarou que "não estava lutando por meio litro de leite para cada
hotentote, ou para criar uma Tennessee Valley Authority no Danúbio, ou
pela proteção governamental para libertar a Utopia" (citado em Walker,
1976, p.91). O Chicago Tribune censurou "o místico Mr. Wallace",
que "se dedicava a sonhos que deveriam atrair mais ceticismo que
admiração", enquanto outros críticos denunciavam os esforços para
"estender o New Deal por toda a Terra" (Blum, 1976,
p.284-285). E Martin Dies, um deputado do Partido Democrata do Texas e
presidente do Comitê de Atividades Não-Americanas, distribuiu uma nota à
imprensa declarando que vários altos funcionários do governo no BEW eram
filiados ao Partido Comunista (Schapsmeier, 1971, p.52). Mas um dos mais
ferrenhos críticos de Wallace era o democrata texano Jesse Jones, que presidira
a RFC desde sua criação em 1932 e também fora indicado secretário do comércio
em 1940, para atender aos democratas conservadores, insatisfeitos com a escolha
de Wallace para vice-presidente. Jones, um poderoso empresário de Houston que
tinha feito fortuna na indústria madeireira, no mercado imobiliário, na
construção civil e no setor financeiro, defendia os interesses do empresariado,
o conservadorismo fiscal e baixos preços das commodities. Como boa parte
da opinião pública norte-americana, ele abominava a possibilidade de um New
Deal na América Latina. Em suas memórias publicadas no pós-guerra, Jones
atacou Wallace e seus colegas no BEW por "prejudicar o esforço de
guerra" em seu "afã de jogar dinheiro fora para propósitos
ruins", observando que o tino empresarial de seus associados tinha poupado
o dinheiro dos contribuintes e salvara o programa da borracha de um escândalo
nacional (Jones, 1951, p.489).
Nas
políticas de obtençãob
de matéria-prima, a RFC defendia uma relação de trabalho próxima com o capital
estrangeiro e multinacional que, segundo os conservadores, tinha a experiência
empresarial e as habilidades técnicas necessárias.87
Diferentemente dos defensores do "governo grande" no BEW com seus
projetos para "americanizar a Amazônia", os agentes da Rubber
Reserve insistiam em que o maior suprimento de borracha da Amazônia
brasileira poderia ser obtido, no menor tempo possível, entregando a
responsabilidade primária aos brasileiros e limitando o envolvimento de
norte-americanos no programa da borracha à assistência técnica e às relações
com os negociantes locais e os seringalistas. A assistência norte-americana na
Amazônia deveria evitar a "interferência desnecessária nos hábitos e
costumes do povo", incluindo tentativas de reformas sociais, "exceto quando
tais reformas tiverem um impacto direto na produtividade do trabalho".
Diziam também que os seringueiros não deveriam ganhar "muito dinheiro, a
ponto de perder o interesse em continuar produzindo".88
Desprezando relatórios do BEW sobre as deploráveis condições sociais nos
tributários remotos do Amazonas, Jones afirmaria, mais tarde: "nosso
trabalho era produzir borracha", e, além disso, "as condições sociais
em muitas partes dos Estados Unidos eram deploráveis, então não era
surpreendente que o fossem na Amazônia" (Jones, 1951, p.425).
Os
opositores das políticas para obtenção de matéria-prima do BEW também
expressavam sua posição nos termos da segurança nacional. O respeito aos
sistemas locais de negócios e às práticas culturais seria essencial para
assegurar a produção e ganhar a boa vontade e o respeito das populações
latino-americanas.89Cláusulas
impondo direitos sociais aumentariam o custo do trabalho ou encorajariam a
vagabundagem, e "dificilmente o papel das agências do governo dos Estados
Unidos seria tornar a situação mais complicada para os patrões".90
Ademais, políticas norte-americanas que promovessem reformas socioeconômicas no
comércio da borracha violavam a soberania brasileira e poderiam gerar atritos
com um aliado central em tempo de guerra.91
Clayton, o secretário-assistente de comércio, declarou que, dado o
"vigor" com que o Brasil "defende diligentemente suas
prerrogativas nacionais", os apelos do BEW para que o Brasil entregasse
aos Estados Unidos o controle da imigração e dos problemas de transporte na
Amazônia eram ingênuos e perigosos: "afinal, o Brasil é uma nação
soberana, e o governo dos Estados Unidos pode fazer no Brasil apenas o que o
governo brasileiro nos deixar fazer e nada mais".92
Dadas as ansiedades geopolíticas das autoridades brasileiras na Amazônia, a Rubber
Reserve condenou, particularmente, políticas que poderiam levantar
suspeitas de uma "invasão americana" da Amazônia, incluindo a
contratação de funcionários sem uma "consideração cuidadosa" de seu
caráter e habilidade para representar apropriadamente uma empresa do governo
norte-americano, especialmente em regiões distantes e sem a ajuda da embaixada
ou dos homens mais importantes da Rubber Reserve.93
A apaixonada
defesa da soberania brasileira pelos conservadores era bastante arbitrária,
considerando-se o substancial ingresso de capital norte-americano na região
amazônica durante a guerra. Ademais, a defesa do relativismo cultural, vinda de
tendências pró-empresariais e de pressões da diplomacia brasileira, e não de uma
sensibilidade antropológica, serviu para evitar a questão fundamental do papel
do governo norte-americano na promoção de condições de trabalho mais justas na
América Latina.94
A oposição à legislação social na Amazônia revelava ainda o oportunismo
político dos conservadores, que vilipendiavam políticas estatistas mesmo
enquanto as corporações norte-americanas faziam fila para colher, no
pós-guerra, lucros inesperados advindos do investimento maciço do governo na
indústria sintética da borracha.95
De fato, as indústrias petrolífera, química e da borracha foram agentes
fundamentais na promoção e no desenvolvimento da indústria sintética durante a
guerra. Como a maioria das agências do período da guerra, o escritório do Rubber
Director (criado a partir da recomendação do Rubber Survey Committee,
em setembro de 1942, para supervisionar as medidas) recrutava seu pessoal das
indústrias envolvidas, que defendiam o desenvolvimento de sintéticos pelo
governo, em relação à promoção da borracha crua no hemisfério.96
Contudo, o
repúdio ao internacionalismo do New Deal na Amazônia refletia também um
cinismo mais profundamente assentado sobre a possibilidade de a assistência do
governo dos Estados Unidos elevar o nível social dos trabalhadores na floresta.
Em suas memórias, escritas no pós-guerra, Jesse Jones condenou Henry Wallace e
seus "colegas reformadores sociais" que acreditavam que uma melhora
nas condições de vida na Amazônia levaria a um aumento da produção de borracha.
Ridicularizando a suposta sugestão de Wallace de que fornecer 350 mil toneladas
de gêneros alimentícios básicos para os pobres da Amazônia rural (incluindo
farinha enriquecida com vitaminas) tornaria os trabalhadores do programa da
borracha mais produtivos, Jones notou, com sarcasmo: se a comida fosse dada de
graça, os Estados Unidos obteriam menos borracha porque "as pessoas aqui,
como a maioria das pessoas em todo o mundo, só trabalham porque querem comer.
Se fossem alimentados de graça, muitos deles sequer trabalhariam e, portanto,
haveria pouca ou nenhuma borracha." Jones atacou o BEW, declarando
(falsamente) que suas cláusulas trabalhistas levariam os produtores
latino-americanos a pagar a seus empregados salários com poder de compra equivalente
ao da América do Norte, e a conceder "benefícios sociais" que, além
de violar a soberania de outras nações e contrariar os patrões, teriam
interferido "com os costumes referentes à alimentação, à moradia, à
higiene e ao trabalho dos seus povos". Para dar suporte à sua
argumentação, Jones escolheu o que provavelmente acreditava ser a mais ridícula
das propostas de Wallace: a ideia de que "este seria um mundo mais feliz
se ensinássemos aos índios nas selvas da Amazônia a cultivar vegetais à maneira
da América do Norte". Para Wallace, na realidade, os índios,
"inocentes, estavam satisfeitos com uma dieta baseada em farinha de milho
e feijão mexicano [sic]" (Jones, 1951, p.422-423, 491).c
Em termos mais ásperos, Harold Gustin, técnico em borracha, expressara um
pessimismo semelhante em relação aos seringueiros num diário que mantinha
enquanto percorria os tributários do Baixo Amazonas:
Se até mesmo
o estímulo de uma guerra naquele que, gostamos de acreditar, é o mais avançado
país do mundo não incentiva seu povo a se esforçar ao máximo ou mesmo
medianamente, que diabos se pode fazer para essas pessoas, mal pagas, mal
alimentadas, doentes, ignorantes e, em geral, não-privilegiadas, produzirem
além do absolutamente essencial para o que consideram uma vida
satisfatoriamente confortável?97
Como vários
acadêmicos têm argumentado, a autorrepresentação do poder colonial europeu e
norte-americano se baseava, em parte, numa demarcação simplificada dos povos e
das paisagens das regiões tropicais. A "tropicalidade" servia, de
várias formas, a um contraste com a formação da identidade europeia e
norte-americana, baseada na ideia de que esses eram lugares de temperança,
racionalidade e frugalidade.98Ou,
como observa David Harvey, "denegrir os lugares dos outros é uma forma de
afirmar a viabilidade e o poder incipiente de si mesmo" (Harvey, 1996,
p.322). Culpando os seringueiros por sua pobreza, e não a exploração
socioeconômica da região, que se inseria numa divisão internacional do
trabalho, Jones revelou uma visão cínica (e cíclica) dos trabalhadores rurais
amazônicos como peões ignorantes e preguiçosos, destinados à marginalidade
social e dela merecedores. Mais que uma compreensão deficiente da Amazônia -
atribuindo um papel central à farinha de milho e ao feijão numa dieta
enriquecida pela mandioca - a posição política de Jones advinha de percepções culturais
da floresta tropical como um lugar de debilitação física e decadência moral, e
replicava tais percepções. Em Brazil: Bulwark of Inter-American relations (1945),
Henry Albert Phillips defendeu que o fracasso do Brasil em criar plantations
de borracha "reflete e revela algo basilar, localizado nas profundezas da
essência do caráter brasileiro e de sua conduta como um todo", que ele
resumia assim: "Os brasileiros não são realistas, e nunca o serão, num
grau similar ao que os anglo-saxões podem ser e frequentemente são". E,
ecoando outros lugares-comuns colonialistas sobre a incapacidade dos nativos
para administrar os recursos naturais, ele exaltou a operação britânica que
contrabandeou as sementes da borracha da Amazônia, sem a qual "a Era do
Automóvel se atrasaria indefinidamente".99
Jones e
Wallace foram internacionalistas, em seus esforços para difundir os ideais
norte-americanos - apoiando o livre-comércio e um sistema internacional
integrado. Contudo, suas visões da Amazônia divergiam significativamente.
Enquanto Wallace buscava apagar um legado de injustiças passadas na Amazônia,
com a promessa de libertação futura, Jones ridicularizou os esforços para
atribuir à região e a seus povos tamanha relevância histórica. Enquanto o
paternalismo de Wallace enfatizava a redenção amazônica através de um esforço
liderado pelos Estados Unidos, Jones desprezava a população nativa, que
considerava impermeável ou hostil a mudanças.
O conflito
entre conservadores e progressistas sobre as políticas para obtenção de
matéria-prima na Amazônia atingiu um momento crítico ao longo de 1943. Em
fevereiro, William Jeffers, Rubber Director, restaurou a jurisdição
exclusiva da RFC sobre a obtenção e a produção de borracha natural em todos os
países estrangeiros. [Nesse momento, o nome da agência foi oficialmente
modificado, passando de Rubber Reserve para Rubber Development
Corporation.]100
O Board of Economic Warfare foi oficialmente excluído de qualquer
processo decisório relativo à produção e à obtenção de borracha natural.101
Em 15 de julho de 1943, Roosevelt aboliu o BEW e transferiu suas funções e seu
pessoal para uma nova agência, o Office of Economic Warfare, comandado
por Leo Crowley, um conservador amigo de Jones (Schapsmeier, 1971, p.70-71).
Este continuou a chefiar a RFC, onde, como banqueiro-chefe da administração,
controlava um vasto império de indústrias estatais. Enquanto isso, Wallace se
tornara um estorvo, em razão da guinada para a direita do país, refletida nas
vitórias dos republicanos nas eleições parlamentares de 1942. Assim, Roosevelt
anunciou que Wallace não seria seu companheiro de chapa na eleição de 1944. A
voz do progressismo do New Deal, nos Estados Unidos e na cooperação
econômica inter-americana, foi silenciada, e Wallace foi privado das
responsabilidades políticas com as quais esperava moldar a paz do pós-guerra
(Gellman, 1979, p.169).
A indústria
sintética norte-americana do período da guerra, um produto do esforço conjunto
do Estado, da indústria, de cientistas e de universidades, exigiu um
investimento de 700 milhões de dólares, inteiramente custeado pelo governo.
Quinze fábricas, operadas por corporações privadas que eram ressarcidas dos
custos e remuneradas pela administração, estavam funcionando já em fins de
novembro de 1943. Em 1944, a produção de borracha sintética ultrapassou 773 mil
toneladas e, ao final da guerra, as fábricas operavam com uma capacidade anual
de 830.780 toneladas. Antes da guerra, os Estados Unidos eram o maior importador
de borracha crua do mundo, porém, ao seu final, tornaram-se o maior exportador
de borracha. Enquanto em 1942, 96% da borracha consumida nos Estados Unidos era
natural e 4% sintética, em 1945 esses números eram 15% e 85%, respectivamente.
O sucesso do programa sintético nos Estados Unidos fez surgir uma nova e
florescente indústria e elevou o status de cientistas cuja
"metodologia objetiva" foi considerada crítica para as decisões
políticas e para a guerra. Resultou também na perda de importância do comércio
hemisférico de borracha crua.102
Na Amazônia, a Rubber Development Corporation reduziu a escala de suas
operações a partir de julho de 1943, sob a justificativa de que as despesas
eram altas, os fornecedores locais se opunham à regulamentação estatal do
comércio da borracha e a produção de látex era desapontadora. O comércio de
borracha na Amazônia, outrora visto como antídoto para a dependência
norte-americana da borracha, alicerce da cooperação interamericana ou baluarte
contra a concentração industrial, acabou se tornando um epítome da degeneração
tropical. Retornando de uma viagem de um mês à Amazônia em setembro de 1943, W.
N. Walmsley, do Departamento de Estado, fez uma crítica devastadora ao comércio
da borracha: "Não há, em lugar algum, um retrato mais aterrador do que, em
países mais progressistas, chamamos de corrupção e exploração".103
CONCLUSÃO
Sobre o vale
do rio Amazonas, Earl Park Hanson observou, em 1944: "é provável que nos
últimos dois anos sua bacia tenha sido mais substancialmente explorada e mais
conhecimento se tenha obtido sobre sua natureza física do que em quatro
séculos, desde que seu antigo conquistador, Francisco de Orellana, se tornou o
primeiro comandante branco a atravessá-lo".104
Embora requentando a gasta imagem da Amazônia como um território
recém-descoberto, ele estava correto em vários pontos: nos cinco anos
anteriores, os Estados Unidos tinham enviado à Amazônia centenas de burocratas,
administradores, engenheiros, agrônomos e médicos, visando aumentar a produção
de borracha; enviaram comissões para estudar as possibilidades de cultivo de
gêneros alimentícios na bacia do Amazonas e os problemas de saúde, bem como
para conduzir campanhas contra a malária; enviaram à floresta aviões de
transporte pesado, para buscar borracha (Hanson, 1944, p.14). A Amazônia
emergiu em monografias, livros de viagem, filmes e na propaganda de guerra,
refletindo uma campanha mais ampla do governo norte-americano para solidificar
a aliança interamericana, ainda que distorcida pelo idealismo romântico ou por
preconceitos arraigados (Park, 1995, p.145). Agentes do governo dos Estados
Unidos, geógrafos, estrategistas, ensaístas e propagandistas - incentivados por
seus pares brasileiros - tentaram transformar a Amazônia em algo
"legível" para o público norte-americano.105
Contudo,
enquanto Hanson escrevia essas palavras para a Associação de Política Externa,
a estrela da Amazônia já havia começado a perder seu brilho no horizonte
político dos Estados Unidos. Em seu nível mais básico, a trajetória da Amazônia
no imaginário dos Estados Unidos no tempo da guerra pode ser compreendida
dentro do contexto de uma longa história de esforços de habitantes do
hemisfério Norte para garantir o acesso às commodities tropicais.
Durante o século XIX, os ingleses transferiram sementes da hevea da
Amazônia para suas colônias asiáticas, numa estratégia para aumentar a produção
da borracha e reduzir seus custos.106
Embora antes de Pearl Harbor a ameaça de interrupção do fornecimento por causa
da guerra tenha provocado discussões nos Estados Unidos sobre a importância
geopolítica de se diversificar os mercados da borracha e o desenvolvimento dos
sintéticos, a subsequente interdição japonesa dos mercados tradicionais do
Sudeste asiático fez que os agentes do governo norte-americano e cientistas se
apressassem na busca por alternativas. Em meio a essa crise, a política do
governo dos Estados Unidos priorizou a rápida criação de uma indústria
sintética, ainda que o comércio da borracha crua na Amazônia também tenha
recebido um estímulo efêmero, na forma de subsídios dos Estados Unidos.
Este ensaio,
ao mesclar história diplomática, ambiental e cultural, sugere ainda que a
evolução da Amazônia no imaginário norte-americano no tempo da guerra e as
decisões políticas tomadas devem ser vistas sob uma lente analítica mais ampla.
Como Arthur Whitaker observou, o ideal do hemisfério ocidental era um conceito
geográfico enraizado em movimentos anticolonialistas do século XIX, que
engendraram uma pletora de visões sociais, culturais, econômicas e
geopolíticas.107
De fato, a Amazônia testou os ideais enaltecidos de solidariedade hemisférica:
para os céticos norte-americanos, a alteridade da floresta era um emblema do
vasto e intransponível abismo entre os povos e culturas do Norte e do Sul, o
qual ao mesmo tempo perpetuava, revelando as limitações, senão a futilidade, do
pan-americanismo; para outros, a perfeita complementaridade da
"fronteira" amazônica fortaleceria os Estados Unidos, econômica e
moralmente, enquanto os ideais universais de justiça social e de democracia
solidificariam os laços transnacionais, erradicariam a diferença cultural e
reduziriam as desigualdades globais. Depois de Pearl Harbor, os responsáveis
pela formulação das políticas dos Estados Unidos continuaram profundamente
divididos sobre os objetivos do país na Amazônia: os liberais do New Deal
preferiam a regulamentação estatal e subsídios para modernizar o comércio de
borracha crua, alcançar reformas sociais duradouras e contrabalançar o controle
monopolístico da emergente indústria da borracha sintética; os conservadores
defendiam as prerrogativas empresariais na Amazônia, a concentração corporativa
na indústria sintética e a manutenção da divisão internacional do trabalho.
As decisões
políticas dos Estados Unidos durante a guerra, em relação à Amazônia,
informaram e foram informadas por diferentes sensibilidades culturais que
refletiam, ao mesmo tempo, necessidades domésticas contemporâneas e mitos
arraigados sobre as regiões e populações tropicais. A clássica dicotomia do El
Dorado ou "Inferno Verde" que polarizara as visões de forasteiros
sobre a floresta tomou novas formas, num clima de militarismo global e de
expansão do poder do Estado. Num nível conceitual mais amplo, o cisma entre os
burocratas norte-americanos evoca observações acadêmicas, segundo as quais os
projetos coloniais têm se baseado em tensões entre noções de incorporação e
diferenciação. Como observam Stoler e Cooper, as políticas de reforma social
dos Estados colonialistas europeus derivavam de um tênue equilíbrio entre
programas que ligaram os interesses de grupos específicos ao poder colonial e
políticas que manteriam uma série de distinções culturais escolhidas para
conter e restringir as aspirações daqueles que seriam dominados. Dentro dos
Estados colonialistas europeus, a tensão inevitavelmente levantava esta
questão: até que ponto "civilizar" outros povos promoveria os
interesses europeus e que tipo de consequência "civilizar em excesso"
poderia trazer (Stoler & Cooper, 1997, p.7-10). Com o maior envolvimento do
governo dos Estados Unidos na Amazônia, gerado pela dependência da borracha, os
gestores daquele país se digladiavam sobre até que ponto o "esforço
civilizatório" seria apropriado para a floresta amazônica e seus povos.
As visões da
Amazônia no tempo da guerra também ressaltam como as percepções
norte-americanas da floresta, moldadas por forças materiais, ideológicas e
políticas, apresentaram permanências e mudanças ao longo do tempo. Na década de
1980, enquanto os gestores do Atlântico Norte tentavam lidar com os problemas
da poluição industrial e do aquecimento global, a Amazônia reapareceu, em nova
roupagem, na política e no imaginário popular nos Estados Unidos. Se
norte-americanos defenderam a floresta tropical como um antídoto para o efeito
estufa ou condenaram o desmatamento como sua causa, novos desafios geopolíticos
haviam conferido novos significados à Amazônia. Ainda que em outro nível, as
políticas e atitudes contemporâneas dos Estados Unidos em relação à Amazônia
carregam as marcas indeléveis de antigas batalhas ideológicas. Ambientalistas,
cujo ethos anticorporativo, pró-regulamentação e transcendentalista ecoa
aquele dos progressistas do New Deal, defendem a conservação da floresta
tropical como a forma adequada de manejo da natureza tropical e um contrapeso
aos males do capitalismo industrial. Como Wallace, valem-se de uma mistura de
apelos morais com argumentos científicos (agora focados na biodiversidade e na
emissão de gás carbônico) para influenciar as políticas governamentais e a
opinião pública nos Estados Unidos e no Brasil. E, como os progressistas do
BEW, as ONGs ambientalistas do hemisfério Norte são frequentemente acusadas, no
Brasil, de obstruírem interesses empresariais na Amazônia e de violarem a soberania
nacional. Contudo, para muitos conservadores pró-empresas nos Estados Unidos o
ambientalismo é a última artimanha liberal para impor regulamentação
governamental sobre a indústria privada, e o aquecimento global, um embuste
orquestrado por esquerdistas e pela Organização das Nações Unidas para destruir
a supremacia econômica norte-americana. Como Jesse Jones, eles têm fortes laços
com a indústria de energia e resistem à adoção multilateral de padrões
universais para regular a interação humana com o ambiente natural. E, como sua
contraparte da época da guerra, os conservadores contemporâneos nos Estados
Unidos buscam manter a divisão internacional do trabalho por meio de políticas
econômicas ortodoxas, como também pelo distanciamento ideológico entre o Norte
e o Sul: a depravação tropical, que resiste à regeneração, ameaça contaminar a
virtude do Norte. S. Fred Singer, um cientista que questionou a existência do
aquecimento global, denuncia-o como uma trama de "cleptocratas do Terceiro
Mundo" a fim de encontrar novas desculpas para pedir dinheiro ao Ocidente.108Em
suma, não obstante nos Estados Unidos frequentemente se imagine a Amazônia como
atemporal (e desabitada), sua representação tem raízes históricas em conflitos
sociopolíticos sobre os usos e os significados da natureza tropical.
A
historiografia recente sobre a Amazônia produzida por norte-americanos também
reflete as mudanças nos significados da região, ao mesmo tempo em que contribui
para elas. Durante a Guerra Fria, quando acadêmicos dos Estados Unidos
questionavam as teorias das ciências sociais e os mantras políticos sobre o
subdesenvolvimento da América Latina, o trabalho de Barbara Weinstein (1983)
examinou os modos de produção nos seringais para entender o engessamento do
processo de transição da região para o capitalismo. Alguns anos mais tarde, com
as preocupações ambientais ganhando maior proeminência nos debates políticos e
no método historiográfico nos Estados Unidos, Warren Dean (1987) se concentrou
nos desafios botânicos para o cultivo de seringueiras na Amazônia para entender
as peculiaridades desse comércio. E minha pesquisa sobre a Amazônia no
imaginário dos Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial, conduzida
em meio a uma desastrosa guerra no Iraque que levou à morte mais de 4 mil
soldados norte-americanos e mais de 90 mil civis iraquianos, foi assombrada
pelas origens e consequências da dependência de matérias-primas na indústria
automotiva e pelos dramas e tramas que os norte-americanos instigaram, interna
e externamente, ao lidar com essa realidade.
(Tradução:
Manuel Amaral Bueno e Regina Horta Duarte)
Agradecimento
National Endowment for the Humanities Fellowship; Andrew W. Mellon
Foundation Faculty Fellowship in Latin American Studies; Rockefeller Archive
Center Research Grant; Franklin and Eleanor Roosevelt Institute Research Grant;
University of Texas at Austin Summer Research Assignment. E agradeço a Regina Horta Duarte e Manuel Amaral Bueno pela tradução
exemplar.
NOTAS DOS
TRADUTORES
a
No original, o termo usado é Wilderness. É um termo intraduzível para o
português, podendo significar tanto uma grande região inculta e em condições
originais, como uma imensa floresta ou outra vegetação nativa, assim como áreas
desérticas e vazias de ocupação humana.
b
O termo usado no original é procurement, traduzido aqui por obtenção.
Entretanto, é importante ressaltar que o sentido da palavra inglesa é muito
mais amplo, envolvendo um conjunto de atos administrativos e logísticos de
estratégias e escolhas de fornecimento.
c
A palavra usada por Jones (frijole) designa um gênero de feijão
cultivado no México e em outros países da América Espanhola, mas não no Brasil.
NOTAS
1 Ver, por exemplo, Hilton, Stanley E.
"Brazilian Diplomacy and the Washington-Rio de Janeiro Axis during the World War II
Era", Hispanic American Historical Review, v.59, n.2, May 1979,
p.201-231; [ Links ] Moura, Gerson. Autonomia na dependência: a política
externa brasileira de 1935 a 1942. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980; [ Links ] McCann,
Frank D. The Brazilian-American Alliance, 1937-1945. Princeton:
Princeton University Press, 1974; [ Links ] Corsi, Francisco Luiz. Estado Novo:
política externa e projeto nacional. São Paulo: Ed. Unesp; Fapesp, 1999. [ Links ]
2 Ver Humphreys, R. A. Latin America and
the Second World War. London: Athlone, 1981, p.70. [ Links ]
3
Ver, por exemplo, Gondim, Neide. A invenção da Amazônia. São Paulo:
Marco Zero, 1994; [ Links ] Slater, Candace. Entangled Edens: visions
of the Amazon. Berkeley: University of California Press, 2002; [ Links ] Maligo,
Pedro. Land of Metaphorical
desires: the representation of
Amazonia in Brazilian literature. New York: Peter Lang, 1998. [ Links ]
4 Ver, por exemplo, Kaplan, Amy; Pease, Donald
E. (Ed.). Cultures of United States Imperialism. Durham: Duke University
Press, 1993; [ Links ] Joseph, Gilbert M.; LeGrand, Catherine C.;
Salvatore, Ricardo D. (Ed.). Close encounters of empire: writing the
cultural history of U.S.-Latin American relations. Durham: Duke University Press, 1998; [ Links ] Tota,
Antonio Pedro. O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na
época da Segunda Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. [ Links ]
5 Ver Rock, David. "War and Postwar
intersections: Latin America and the United States". In: Rock, David
(Ed.). Latin America in the 1940s: war and postwar transitions. Berkeley
and Los Angeles: University of California Press, 1994. p.26. [ Links ]
6 Ver Park, James William. Latin American
underdevelopment: a History of perspectives in the United States,
1870-1965. Baton Rouge: Louisiana State University, 1995; [ Links ] Pike, Frederick B. The
United States and Latin America: myths and stereotypes of civilization and
nature. Austin: University of Texas Press, 1998. [ Links ]
7
O naturalista britânico Henry Walter Bates, por exemplo, ansiou pela
civilização europeia da Amazônia, destinada a produzir "uma nova e
gloriosa raça humana abaixo do Equador". Citado por Slater, Entangled
Edens, p.41; Louis Agassiz aspirou a um influxo mais vigoroso de
"sangue" do hemisfério Norte para o Amazonas, onde aqueles que
"se passavam por brancos" eram portugueses, que tinham uma tendência
para se tornarem "indianizados em seus hábitos". Citado por Stepan, Nancy
Leys. Picturing tropical nature. Ithaca: Cornell University Press, 2001.
p.10. [ Links ]
8 Rock, 1994, p.23; e Guerant, Edward O. Roosevelts Good Neighbor Policy. Albuquerque: University of New Mexico Press, 1950. p.195. [ Links ]
9
O objetivo específico de várias dessas agências foi bem estudado no caso do
Brasil. Sobre o OIAA, ver Tota, 2000; e Campos, André Luiz Vieira de. Políticas
Internacionais de Saúde na Era Vargas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006; sobre
a USDA e a FAR, ver Dean, Warren. Brazil and the struggle for rubber: a study in environmental history.
Cambridge: Cambridge University Press, 1987. [ Links ]
10 Reich, Cary. The life
of Nelson A. Rockefeller: worlds to conquer, 1908-1958. New York:
Doubleday, 1996. p.195. [ Links ]
11 Marshall, Jonathan. To
have and have not: southeast Asian raw materials and the origins of the
Pacific War. Berkeley: University of California Press, 1995. p.1-2; [ Links ] e Knorr, K. E. World
rubber and its regulation. Stanford: Stanford University Press, 1945. p.3.
[ Links ]
12 Tuttle, Jr., William M.
"The birth of an industry: the synthetic rubber mess in World War II", Technology
and Culture, v.22, n.1, Jan. 1981, p.65. [ Links ]
13 Knorr, K. E. World
rubber and its regulation. Stanford: Stanford University Press, 1945. p.3,
9. [ Links ]
14 Hessel, M. S.; Murphy, W.
J.; Hessel, F. A. Strategic materials in hemisphere defense. New York:
Hastings House, 1942. p.7. [ Links ]
15 Coronil, Fernando. The
Magical State: nature, money, and modernity in Venezuela. Chicago:
University of Chicago Press, 1997. p.29. [ Links ]
16 Apodaca, Joseph L.
"Can the Americas live alone?", Agriculture in the Americas,
Feb. 1941, p.10. [ Links ]
17
Martinello, Pedro. A "batalha da borracha" na Segunda Guerra
Mundial. Rio Branco: Edufac, 2004.
p.85, 209. [ Links ]
18 Harvey, David. Justice,
nature and the geography of difference. Cambridge (Mass.); Oxford (UK):
Blackwell, 1996. p.232. [ Links ]
19 Gunther, John. Inside
Latin America. New York & London: Harper & Brothers, 1941. p.14-15.
[ Links ]
20 Ahl, Frances Norene. Two
thousand miles up the Amazon. Boston: The Christopher Publishing House,
1941. p.131. [ Links ]
21 Dean, Warren. Brazil
and the struggle for rubber: a study in environmental history. Cambridge:
Cambridge University Press, 1987. p.87-89; [ Links ] Brandes, E. W.
"Rubber on the Rebound – East to West", Agriculture in the
Americas, Apr. 1941, p.4; [ Links ] Mallery, D. "Rubber
Studies Begin", Agriculture in the Americas, Dec. 1941, p.5-6; [ Links ] e Langford, M. H.
"Sciences Fight for Healthy Hevea", Agriculture in the Americas,
Aug. 1944, p.151-158. [ Links ]
22 Samuel Herman to Monroe
Oppenheimer, Nov. 2, 1942. National Archives [daqui em diante NA], RG169
Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare, General Counsel,
Box 39.
23
Ver prefácio de Eduardo Viveiros de Castro em Arnt, Ricardo Azambuja;
Schwartzman, Stephan. Um artifício orgânico: transição na Amazônia e
ambientalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. p.22. [ Links ]
24 Appadurai, Arjun.
"Introduction: Commodities and the Politics of Value". In: Appadurai,
Arjun (Ed.). The social life of things: commodities in cultural
perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. p.5. [ Links ]
25 Kleinman, Mark L. A
world of hope, a world of fear: Henry A. Wallace, Reinhold Niebuhr, and
American liberalism. Columbus: Ohio State University Press, 2000. p.88-90, 113;
[ Links ] Blum,
John Morton. V was for victory: politics and American culture during
World War II. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1976. p.287. [ Links ]
26 Gellman, Irwin F. Good
Neighbor Diplomacy. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1979.
p.157-158. [ Links ]
28 Ver, por exemplo, Nash,
Roderick. Wilderness and the American mind. 3.ed. New Haven: Yale
University Press, 1982; [ Links ] Klein, Kerwin Lee. Frontiers
of historical imagination: narrating the European conquest of native
America, 1890-1990. Berkeley: University of California Press, 1997. [ Links ]
29
Sobre as limitações da fronteira como símbolo pan-americano, no Brasil, durante
essa época, ver Wegner, Robert. A conquista do oeste: a fronteira na
obra de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000. [ Links ]
30 Roosevelt, Nicholas. Wanted:
Good Neighbors, the need for closer ties with Latin America. New York: National
Foreign Trade Council, 1939. p.4. [ Links ]
31 Ver, por exemplo, Green,
Philip Leonard. Our Latin American Neighbors. New York: Hastings House,
1941. p.72. [ Links ]
33 Beals, Carleton.
"Future of the Amazon", Survey Graphic, Mar. 1941, p.149-150;
194-195. [ Links ] Para uma biografia crítica de Beals, ver
Britton, John A. Carleton Beals: a radical journalist in Latin America.
Albuquerque: University of New Mexico Press, 1987. [ Links ]
34 Doenecke, Justus D. (Ed.).
In danger undaunted: the Anti-Interventionist Movement of 1940-1941 as
Revealed in the Papers of the America First Committee. Stanford (CA): Hoover Institution Press, 1990. p.6. [ Links ]
35
Estou aqui me inspirando na análise de Richard Drayton sobre as coleções
botânicas do Império Britânico como originadas, em parte, pelas visões
providencialistas da abundância edênica. Ver Drayton, Richard. Natures government: science, imperial
Britain, and the Improvement of the World. New Haven: Yale University Press, 2000. [ Links ]
36 Ver United States Tariff
Commission, Rubber: possibilities of producing rubber in the United
States and rubber conservation, Washington, Sep. 1941; Sobre o relatório da U.
S. Army and Navy Munitions em 1940, ver Marshall, 1995, p.13.
37 Bricks without Straw: the story of synthetic rubber. Akron: B. F. Goodrich Co., 1944.
p.11. [ Links ]
38 Ver Russell, Joseph A.
"Fordlandia and Belterra, rubber plantations on the Tapajos River,
Brazil", Economic Geography, v.18, n.2, Apr. 1942, p.125-145. [ Links ]
39 Inspiro-me aqui em
Lomnitz-Adler, Claudio. "Concepts for the Study of Regional Culture",
American Ethnologist, v.18, n.2, May 1991, p.200. [ Links ]
40 La Varre, William. Southward
Ho!: a treasure hunter in South America. New York: Doubleday, Doran &
Co., 1940. p.115. [ Links ] No mesmo gênero, ver Brown, Rose; Brown,
Bob. Amazing Amazon. New York: Modern Age Books, 1942. p.165. [ Links ]
41 Witherspoon, Anna. Lets see South America. Dallas: The Southern
Publishing Company, 1939. p.446, 459. [ Links ]
42 Ver Dean, Brazil and
the struggle for rubber, 1987, p.87; [ Links ] e Morris, Peter J. T. The
American Synthetic Rubber Research Program. Philadelphia: University of
Pennsylvania Press, 1989. p.9. [ Links ]
43 Pinto, Nelson Prado Alves.
Política da borracha no Brasil: a falência da borracha vegetal. São Paulo: Hucitec; Conselho Regional de
Economia, 1984. p.50-56. [ Links ]
44 Ver Eckes, Alfred E. The
United States and the global struggle for minerals. Austin: University of
Texas Press, 1979. p.103-104; [ Links ] e Krasner, Stephen D. Defending
the national interest: raw materials investments and U.S. foreign policy.
Princeton: Princeton University Press, 1978. p.101-106. [ Links ]
45 Sobre a batalha da
borracha, ver Martinello, 2004; Dean, Brazil and the struggle for rubber,
1987; Secreto, Maria Veronica. Soldados da
borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no
governo Vargas. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007; [ Links ] Morales,
Lucia Arrais. Vai e vem, vira e volta: as rotas dos soldados da
borracha. São Paulo: Annablume; Fortaleza:
Secult, 2002. [ Links ]
46 Weinstein, Barbara S. The
Amazon rubber boom, 1850-1920. Stanford (Calif.): Stanford University
Press, 1983. p.179. [ Links ]
47 Hertz, John.
"Attention is being called to the purchase and securing of wild rubber
from Central and South America..." n.d. Franklin Delano Roosevelt Library
[daqui em diante FDRL], Rubber Survey Committee, 1942, Documents and Report,
Box 10.
48 R. B. Bogardus to Mr.
Bicknell, Washington, Oct. 14, 1942 NA, RG234. Records of the Reconstruction
Finance Corporation [RFC], RDC, Central Files 1942-1949, Booth Steamship
Company thru Brazil – Gen. Cor. 10/42 – 12/31/42 Parts 3 [Box 31] [52].
49 Green, David. The
containment of Latin America: a history of the myths and realities of the
good neighbor policy. Chicago: Quadrangle Books, 1971. p.196. [ Links ] Ver também a
correspondência de Arthur Paul, Chief of Office, to John Worcester, n.d. NA,
RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare, General
Counsel, Box 38.
50 Walker, J. Samuel.
Henry A. Wallace and American foreign policy. Westport (Conn.): Greenwood
Press, 1976. p.94-95. [ Links ]
51 M. B. Wolf, Chief Counsel,
Rubber Division of BEW to R. J. Levy, Assistant Chief, Rubber Division, Nov.
16, 1942, NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare,
General Counsel, Box 41.
52 Milo Perkins to Bernard M.
Baruch, James B. Conant, and Carl T. Compton, Aug. 16, 1942; FDRL, Rubber
Survey Committee, 1942, Box 3, Documents, Vols. I-III.
53 Statement by Vice
President Wallace, Chairman of the Board of Economic Warfare, as Originally
Prepared for the Senate Committee on Appropriations. FDRL, OF4226, Board of
Economic Warfare 1943, Box 1.
54 Milo Perkins to William
Jeffers, Jan. 23, 1943, NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of
Economic Warfare, General Counsel, Box 41; H. A. Wallace to W. L. Clayton, June
19, 1942 FDRL, Henry A. Wallace Papers as Vice President 1941-45, General
Correspondence Box 14; Schapsmeier, Edward L. Prophet in politics: Henry
A. Wallace and the war years, 1940-1965. Ames (Iowa): University Press, 1971.
p.58. [ Links ]
55 Blum, 1976, p.281; Brody,
David. "The New Deal and World War II". In: Braerman, John;
Bremner, Robert H.; Brody, David (Ed.). The New Deal: the national
level. Columbus (OH): Ohio State University Press, 1975. p.300. [ Links ]
56 Ver Walker, 1976, p.94-95;
Blum, 1976, p.281-282; Kleinman, 2000, p.139-147; Rosenberg, Emily S. Spreading
the American dream: American economic and cultural expansion, 1890-1945.
New York: Hill and Wang, 1982. p.170. [ Links ]
57 Wallace, Henry A.
"Economic Warfare – the war behind the war", Army and Navy Journal,
Aug. 29, 1942. [ Links ] FDRL, OF 4226, Board of Economic Warfare
1942, Box 1; H. A. Wallace to W. L. Clayton, July 2, 1942, FDRL, Henry A.
Wallace Papers as Vice President 1941-45, General Correspondence Box 14; Board
of Economic Warfare Memorandum: Obstacles to Increased Rubber Production in
South and Central America, Aug. 31, 1942, FDRL, Rubber Survey Committee, 1942,
Documents and Reports, Box 10.
58 John W. Bicknell, Vice
President Rubber Reserve Company, to D. H. Allen, Special Assistant to the
President, Rubber Reserve Company, Washington, Jan. 13, 1943; Leonard H.
Heller, Chief, Rubber Division, Board of Economic Warfare to John W. Bicknell,
Washington, Jan. 12, 1943. NA, RG234 Records of the Reconstruction Finance
Corporation [RFC], RDC, Country Correspondence File, 1942-45,
Brazil-Miscellaneous.
59 "There is another
misunderstanding which I wish to correct..." n.d., NA, RG169 Foreign
Economic Administration, Board of Economic Warfare, General Counsel, Box 40.
60
Citado por Reich, 1996, p.240; sobre a colaboração entre o BEW e o OIAA, ver
Hoffman, Elizabeth Cobbs. The rich neighbor policy: Rockefeller and Kaiser in Brazil. New Haven: Yale University Press,
1992. p.39. [ Links ]
61 Robert J. Levy to Douglas
Allen, Oct. 3, 1942. NA, RG234 Records of the Reconstruction Finance
Corporation [RFC], RDC, Country Correspondence File, 1942-45,
Brazil-Miscellaneous.
62 Leonard H. Heller to
Douglas Allen, Dec. 9, 1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board
of Economic Warfare, General Counsel, Box 41.
63 Comments on the Statement
Made by Jesse Jones, Secretary of Commerce, on July 5, 1943. FDRL, Henry A.
Wallace, Papers as Vice President 1941-45, General Correspondence Box 61.
64 Arthur Paul, BEW Acting
Assistant Director in Charge of Office of Imports to Milo Perkins, Jan. 13,
1943. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare,
General Counsel, Box 40. Ver também Jones, Jesse H. Fifty billion dollars:
my thirteen years with the RFC, 1932-1945. New York: MacMillan, 1951.
p.428-429; Reich, 1996, p.183. [ Links ]
65 Paul R. Hays, Chief,
Rubber Division, Development Branch to Morris S. Rosenthal, Assistant Director,
1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare,
General Counsel, Box 41.
66 Leonard H. Heller to
Douglas Allen, Dec. 9, 1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board
of Economic Warfare, General Counsel, Box 41.
67 "Use of Labor Clauses
in U. S. Contracts for Procurement of Strategic Materials" Spring 1943. RG
169 Records of the Foreign Economic Administration, Office of Administrator,
Records Analysis – Historical File, Box 6.
68
Sobre os contratos oficiais e a falta de aplicação pelo regime de Vargas, ver
Lenharo, Alcir. Colonização e trabalho no Brasil: Amazônia, Nordeste e
Centro-Oeste: os anos 30. Campinas (SP): Ed. Unicamp, 1985. [ Links ]
69
Sobre o Projeto de saúde pública na Amazônia, ver Campos, André Luiz Vieira de.
Políticas internacionais de saúde na Era Vargas. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2006. [ Links ]
70 Arthur Paul, Chief of
Office, to John Worcester, n.d. NA, RG169 Foreign Economic Administration,
Board of Economic Warfare, General Counsel, Box 38.
71 "There is another
misunderstanding which I wish to correct..." n.d. NA, RG169 Foreign
Economic Administration, Board of Economic Warfare, General Counsel, Box 40.
72 Blum, John Morton (Ed.). The
price of vision: the diary of Henry A. Wallace, 1942-1946. Boston: Houghton
Mifflin, 1973. p.110. [ Links ]
73 Harold W. Starr, Assistant
General Counsel to Morris S. Rosenthal, Assistant Director, BEW, June 22, 1942.
NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare, General
Counsel, Box 40.
74 "Use of Labor Clauses
in U. S. Contracts for Procurement of Strategic Materials" Spring 1943.
NA, RG 169 Records of the Foreign Economic Administration, Office of
Administrator, Records Analysis – Historical File, Box 6.
75 Harold W. Starr, Assistant
General Counsel to Morris S. Rosenthal, Assistant Director, BEW, June 22, 1942.
RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare, General
Counsel, Box 40.
76 Arthur Paul, Chief of
Office, to John Worcester, n.d. NA, RG169 Foreign Economic Administration,
Board of Economic Warfare, General Counsel, Box 38.
77 John W. Bicknell, Vice
President Rubber Reserve Company, to D. H. Allen, Special Assistant to the
President, Rubber Reserve Company, Washington, Jan. 13, 1943; Leonard H.
Heller, Chief, Rubber Division, Board of Economic Warfare to John W. Bicknell,
Washington, Jan. 12, 1943. NA, RG234 Records of the Reconstruction Finance
Corporation [RFC], RDC, Country Correspondence File, 1942-45,
Brazil-Miscellaneous.
78 "Use of Labor Clauses
in U. S. Contracts for Procurement of Strategic Materials" Spring 1943.
NA, RG 169 Records of the Foreign Economic Administration, Office of
Administrator, Records Analysis – Historical File, Box 6.
79 Wilson, Charles Morrow. Trees
& test tubes: the story of rubber. New York: H. Holt and Company, 1943.
p.160-162, 248-252. [ Links ]
80 Ver H. A. Wallace to E. N.
Bresman, Director, Agricultural Division, OCIAA, Oct. 1, 1942. FDRL, Henry A.
Wallace Papers as Vice President 1941-45, General Correspondence Box 9; e Blum
(Ed.), 1973, p.82, 188-189.
81
Hoffman, 1992, p.59; e Moura, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1984. p.56. [ Links ]
82 Henry Wallace to Sumner
Welles and Jesse Jones, Washington (DC), Mar. 11, 1942. FDRL, Sumner Welles
Papers, Latin American Files, 1919-1943, Box 169.
83 Ver McCann, 1974, p.264; e
Bandeira, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1973. p.285. [ Links ]
84 Arthur Paul, BEW Acting
Assistant Director in Charge of Office of Imports to Milo Perkins, Jan. 13,
1943. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare,
General Counsel, Box 40; Leonard H. Heller to Douglas Allen, Dec. 9, 1942. NA, RG169
Foreign Economic Administration, Board of Economic Warfare, General Counsel,
Box 41; D. H. Allen, President, RDC, Memorandum Prepared by Mr. Douglas H.
Allen in Response to a Request for Information as to the "Amazon
Project" and his Relationship Thereto, Jan. 14, 1944. Seeley G. Mudd
Manuscript Library, Princeton University. Rubber Development Corporation,
Amazon Division Records, 1942-1945, Box 3, Folder 10, Doc. 6.
85 Cooper, Frederick; Stoler,
Ann Laura. "Between Metropole and Colony: rethinking a research
agenda". In: Cooper, Frederick; Stoler, Ann Laura (Ed.). Tensions of
empire: colonial cultures in a bourgeois world. Berkeley: University of California
Press, 1997. p.5. [ Links ]
86
Sobre os desafios históricos enfrentados pelo modo capitalista de produção nos
seringais, ver Weinstein, 1983, p.157; e Santos, Roberto. História econômica
da Amazônia, 1800-1920. São Paulo: T. A. Queiroz, 1980. p.114-115. [ Links ]
87
Por exemplo, quando o BEW levantou objeções contra a proposta de um contrato
entre a United Fruit Company e a Defense Supplies Corporation para a produção
de abacá [Manila hemp] na América Central, com base na excessiva
flexibilidade estendida à empresa para que plantasse uma área mínima de abacá,
Will Clayton defendeu a United Fruit: "Eles conhecem o país, são as únicas
pessoas do hemisfério ocidental que já têm experiência considerável em abacá,
e consideramos improvável encontrar em outro lugar a capacitação técnica e a
experiência necessárias para controlar essa operação rapidamente". Ver Wallace to Clayton,
Jan. 16, 1942; e Clayton to Wallace, Jan. 19, 1942. FDRL, Henry A. Wallace
Papers as Vice President 1941-45, General Correspondence Box 14.
88 D. H. Allen, Chairman,
Otis Astoria Corporation to W. L. Clayton, Deputy Federal Loan Administrator,
Federal Loan Agency, Feb. 24, 1942 [52]; S. M. McAshan, Jr. to W. L. Clayton,
Sep. 18, 1942. RG234 Records of the Reconstruction Finance Corporation [RFC],
RDC, Central Files 1942-1949, Brazil, Reports 12/31/41 –9/30/42 thru Brazil,
Reports 4/1/43 – 6/30/43, Box 71; D. H. Allen, President, RDC, Memorandum
Prepared by Mr. Douglas H. Allen in Response to a Request for Information as to
the "Amazon Project" and his Relationship Thereto, Jan. 14, 1944.
Seeley G. Mudd Manuscript Library, Princeton University. Rubber Development
Corporation, Amazon Division Records, 1942-1945, Box 3, Folder 10, Doc. 6.
89 Douglas H. Allen,
President, Rubber Development Corporation, Report on the Operations of Rubber
Development Corporation, Feb. 23, 1943 to Aug. 31, 1944, Washington, Sep. 30,
1944. Seeley G. Mudd Manuscript Library, Princeton University. Rubber
Development Corporation, Amazon Division Records, 1942-1945, Box 3, Folder RDC
– History and Organization.
90 Ver, por exemplo, John
Worcester to Alan M. Bateman, La Paz, Bolivia, Dec. 8, 1942; John Worcester to
Alan M. Bateman, La Paz, Bolivia, Oct. 29, 1942; e Memorandum. Subject: Bolivian
Situation; Worcester File, Dec. 24, 1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration,
Board of Economic Warfare, General Counsel, Box 38.
91 D. H. Allen, Chairman,
Otis Astoria Corporation to W. L. Clayton, Deputy Federal Loan Administrator,
Federal Loan Agency, Feb. 24, 1942. NA, RG234 Records of the Reconstruction
Finance Corporation [RFC], RDC, Central Files 1942-1949, Booth Steamship
Company thru Brazil – Gen. Cor. 10/42 – 12/31/42 Parts 3 [Box 31].
92 W. L. C. Clayton,
Assistant Secretary of Commerce, to Morris S. Rosenthal, Assistant Director of
the BEW, Sep. 21, 1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of
Economic Warfare, General Counsel, Box 41.
93 S. M. McAshan to W. L.
Clayton, Sep. 18, 1942. NA, RG169 Foreign Economic Administration, Board of Economic
Warfare, General Counsel, Box 41.
94 D. H. Allen, President,
RDC, Memorandum Prepared by Mr. Douglas H. Allen in Response to a Request for
Information as to the "Amazon Project" and his Relationship Thereto,
Jan. 14, 1944. Seeley G. Mudd Manuscript Library, Princeton University. Rubber
Development Corporation, Amazon Division Records, 1942-1945, Box 3, Folder 10,
Doc. 6.
95 Boyle, Stanley E.
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102 Morris, Peter J. T. The
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104 Hanson, Earl Parker. The
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Association, 1944. p.14. [ Links ]
105
McCann nota que poucos brasileiros visitavam os Estados Unidos, ao passo que os
norte-americanos frequentemente confundiam Rio de Janeiro e Buenos Aires, e o
samba com o tango. Ver McCann, 1974, p.248-249. James C. Scott usa o termo
"legibility" para se referir aos esforços governamentais para reunir
informações sobre população e paisagens, os quais inevitavelmente simplificavam
excessivamente as realidades sociais. Ver Scott, James C. Seeing like a state: how certain schemes to
improve the human condition have failed. New Haven:
Yale University Press, 1998. [ Links ]
106
Sobre as estratégias das potências industriais visando aumentar a produção e
diminuir os custos das mercadorias de origem tropical, ver Headrick, The
tentacles of progress: technology transfer in the Age of Imperialism,
1850-1940. Oxford: Oxford University
Press, 1988. p.249. [ Links ]
107 Whitaker, Arthur Preston. The
Western Hemisphere idea: its rise and decline. Ithaca (NY): Cornell University
Press, 1954. p.2. [ Links ]
108 Citado por Patterson,
Matthew. Global Warming and Global Politics. London & New York:
Routledge, 1996. p.2. [ Links ]
Artigo
recebido em fevereiro de 2009.
Aprovado em março de 2009.
Aprovado em março de 2009.
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