soldados da borracha

terça-feira, 16 de abril de 2019

“SOLDADOS DA BORRACHA”, UM HOLOCAUSTO TROPICAL.


Por Celso Sabadin.
É incrível como todo e qualquer filme sobre as injustiças, desmandos e maracutaias perpetradas no Brasil de antigamente ganham – neste atual desgoverno lunático – proporções contemporaneamente avassaladoras. É o caso de “Soldados da Borracha”, genial documentário selecionado para esta 24ª edição do Festival É Tudo Verdade.
 
O longa é basicamente dividido em duas partes que conversam muito bem entre si. Na primeira, de maneira didaticamente clara e cinematograficamente eficiente, o roteirista e diretor Wolney Oliveira esmiúça com olhar histórico a questão que dá título ao filme, qual seja, sobre os mais de 50 mil brasileiros egressos primordialmente do nordeste que, durante a 2ª Grande Guerra, se dispuseram a mudar radicalmente de vida para se tornarem seringueiros na região norte. Tal êxodo interno foi motivado por pressões do governo norte-americano que naquele momento estava extremamente necessitado da borracha produzida no Brasil para suprir seu arsenal bélico. Afinal, sem borracha, não há pneus para aviões e carros, botes, nem uma série infindável de peças para as máquinas de guerra.
 
Como o filme bem demonstra, Roosevelt pediu (mandou) e estava disposto a pagar bem pela encomenda humana. Getúlio aceitou, recebeu, e o dinheiro jamais chegou aos chamados soldados da borracha, que definhavam esquecidos por tudo e por todos em meio à Amazônia. Dados do longa informam que dos 50 mil, mais de 30 mil morreram por falta de condições de trabalho, higiene e saúde. “Quase um genocídio”, afirma o escritor e historiador Lira Neto em depoimento ao filme. Eu tiraria o “quase”.
 
Como se o tema já não fosse inquietante o suficiente, “Soldados da Borracha” vai além. Num segundo momento de sua narrativa, abandona o enfoque meramente histórico e fixa-se na situação atual dos sobreviventes deste holocausto tropical. Nela, a política e a politicagem continuam sendo os grandes algozes do povo. Tanto ontem como hoje (e, ao que parece, sempre), estaremos sujeitos e subjulgados a governos dos mais corruptos, que fazem questão de tornar intransponível e gigantesco abismo social que separa as classes dominantes das dominadas. Para que as dominadas jamais deixem de assim ser.
 
“Soldados da Borracha” é um trabalho obrigatório para quem deseja entender este cada vez mais incompreensível Brasil de hoje. Imprescindível e emocionante.
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Filme cearense 'Soldados da Borracha' recebe prêmio nacional!


Filme cearense 'Soldados da Borracha' recebe prêmio nacional no Festival É Tudo Verdade

A produção concorria com outros seis filmes na categoria de médias e longas metragens brasileiras


A comovente história dos soldados da borracha

Em meio à 2ª Guerra Mundial, milhares de brasileiros foram enviados à Amazônia para colher o látex de que necessitava a indústria bélica norte-americana.

Luiz Zanin Oricchio
11 de abril de 2019 | 12h31
TEXTO RETIRADO DO ESTADÃO:

A borracha e não a pólvora era o material imprescindível no esforço de guerra dos Aliados contra os nazistas. E quem podia fornecê-lo? O Brasil, com seus seringais amazônicos. O látex estava lá. Faltava mão de obra para colhê-lo. Ao fazer a opção pelo lado aliado, o governo de Getúlio Vargas organizou um mutirão gigante em busca da preciosa matéria-prima. Esta saga é descrita no  documentário Soldados da Borracha, do diretor cearense Wolney Oliveira, em competição nacional do festival É Tudo Verdade.
O doc conta com alguns trunfos: a minuciosa pesquisa de imagens, o cuidado com a contextualização dos fatos e, sobretudo, a força do depoimento dos sobreviventes da saga, hoje idosos ainda na luta pela justa indenização prometida e devida pelo Estado nos anos 1940.
O contexto: em sua política pendular de apoio entre Alemanha e Estados Unidos, Getúlio Vargas por fim se decidiu pelos Aliados quando submarinos alemães torpedearam navios brasileiros. O Brasil declarou guerra ao Eixo e a saga da borracha foi sua moeda de troca, pois o material era necessário para a indústria bélica norte-americana. De acordo com fontes consultadas pelo documentário, para compensar a torrente de dólares despejada pelos EUA no Brasil, a borracha era moeda ainda mais forte que o envio de tropas daFEB (Força Expedicionária Brasileira) para combater na Itália. À luz do governo, os soldados da borracha e os pracinhas teriam o mesmo status. Mas isso não foi cumprido.
Cerca de 60 mil nordestinos foram levados para a região amazônica atrás do látex. Enfrentaram a odisseia de uma viagem penosa, má alimentação, as doenças tropicais, um trabalho insano e a exploração econômica nas fazendas. Era um verdadeiro trabalho escravo. Metade deles morreu antes de voltar para casa. Alguns desses sobreviventes ainda esperam pelo reconhecimento e o pagamento de indenizações. Estas vieram sob a forma do que eles consideram como “esmola”: 25 mil reais, quando a quantia pedida pelos advogados seria da ordem de 800 mil.
O filme mostra de maneira clara: seja combatendo no inverno italiano, seja colhendo látex no calor infernal da Amazônia, o povo humilde, como sempre, foi usado como bucha de canhão do Estado brasileiro.
Essa história triste de injustiça é pontuada por alívios cômicos. Não que o riso seja buscado pelo diretor de maneira artificial. O humor entra com naturalidade na fala desses velhinhos e velhinhas maravilhosos, capazes de, em meio ao sofrimento, recordar histórias saborosas e rir-se da própria desgraça. São o que existe de melhor no Brasil.

SOLDADOS DA BORRACHA / 24ª EDIÇÃO - 2019 SOLDADOS DA BORRACHA Competição Brasileira de Longas e Médias-Metragens

PARABÉNS AO DIRETOR WOLNEY OLIVEIRA pelo Prêmio MELHOR LONGA METRAGEM NACIONAL concedido pelo júri da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas Metragistas de São Paulo ABD-SP!
O longa metragem SOLDADOS DA BORRACHA participou da 24º Edição do Festival É tudo verdade!!!
http://etudoverdade.com.br/br/filme/45908-Soldados-da-Borracha
Durante a Segunda Guerra Mundial, um acordo de cooperação entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos levou cerca de 60 mil nordestinos para a região amazônica para trabalhar na extração de látex destinado à indústria americana de armamentos. Metade deles morreu antes de voltar para casa e muitos outros ainda esperam o reconhecimento como “heróis da pátria” e a prometida aposentadoria equivalente à dos militares.